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quinta-feira, 8 de novembro de 2018

D.R.

A famosa D.R. (discussão de relacionamento) está virando sinônimo de chateação, de momento negativo, de que as coisas não vão bem na relação entre pessoas, seja no âmbito conjugal, familiar ou até mesmo profissional. Tanto isso é presente que a própria palavra feedback já parece encaminhar para uma conversa onde coisas que não queremos ouvir virão à tona, de modo que conotamos negativamente.

Quantas vezes evitamos as D.R.s e preferimos calar, empurrando para a frente ou varrendo para debaixo do tapete de nosso inconsciente pequenas mágoas, ressentimentos aparentemente inofensivos, desconfortos psíquicos, acumulando vagarosa e imperceptivelmente um verdadeiro monte de lixo tóxico, tudo isso em nome do bem estar da relação. Porém, podemos demorar para perceber que o bem estar da relação depende do bem estar de todas as suas partes. Com isso, se chega ao resultado contrário: ao invés de proteger a relação, a expomos à negligência em não lhe darmos a manutenção necessária, os pequenos ajustes que todas as coisas de tempos em tempos precisam, o alinhamento que sintoniza projetos de vida com uma visão de futuro, o reconhecimento de expectativas em relação às perspectivas.

Nesse contexto, será que uma D.R. é realmente tão amedrontadora assim?

E se for exatamente uma cultura de D.R. que esteja fazendo falta em sua relação?

Em âmbito profissional, o mesmo acontece. Quando surge o termo feedback, a tendência atual é que serão levantados assuntos onde não estamos indo bem. Mesmo que assim fosse, porque não exercemos a escuta ativa e procuramos receber o que a outra parte nos traz como material de reflexão, antes de sermos reativos e construirmos muros em nossa comunicação?

Se pararmos para pensar, absolutamente tudo em nossa vida é feedback. A forma que agimos, que pensamos, que sentimos, tudo isso nos dá constante retorno. Cabe a cada um de nós observar quais estão sendo esses retornos, se eles estão sendo os esperados, ou se estão nos distanciando da vida que almejamos. Taxar feedbacks como "positivos" ou "negativos", nesse contexto, não parece fazer muito sentido: ou temos o feedback de seguir como estamos, ou aprendemos uma forma que precisamos mudar.

Tudo é uma questão de transparência e equilíbrio. Uma máquina que precisa de manutenção todo dia pode estar prestes a pifar de vez. Uma máquina que nunca recebe manutenção pode estar na mesma situação. Relacionamentos que precisam de D.R.s constantes, ou que nunca precisam, podem estar vulneráveis.

Em qualquer conjuntura, harmonizar as relações evita o que de pior pode acontecer, que é uma ou todas as partes dedicarem apenas indiferença uns aos outros. Conhecemos nossas necessidades, anseios, medos e expectativas. Antes de imaginar quais são as do outro, cabe, de tempos em tempos, de modo tranquilo, reconhecer e ter clareza e transparência sobre as necessidades do outro, também.

Discutir é debater, não é brigar. Relacionamento é conviver com o outro, não é tentar vencê-lo. "Diálogo" é uma palavra que tem em sua raiz o "di" de duplo, de duas pessoas participando. Uma relação sadia entre pessoas só pode ser uma em que todos os envolvidos ganham juntos. 

Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli