Conta a mitologia grega sobre Dédalo, um grande engenheiro e
inventor que, certa feita, foi requisitado pelo Rei Minos para construir um
imenso labirinto que pudesse aprisionar um ser metade homem, metade touro, o
Minotauro. Esse ser, por sua aparência medonha, foi menosprezado por toda a sua
vida, tornando-se um monstro enfurecido que se alimentava de carne humana.
Aceitando a empreitada, Dédalo iniciou o trabalho da
construção do labirinto utilizando todo o seu conhecimento. Eis que, de
repente, seu trabalho tornou-se tão perfeito que ele mesmo se viu aprisionado
dentro do próprio labirinto que construíra, junto com o Minotauro que vagava
pelos corredores de idas e vindas do local. Dédalo, a muito custo, alcançou a
saída, não sem antes ter tido que encarar o medo de não conseguir encontrar sua
liberdade e ser devorado.
***
Quantas vezes em nossas vidas acabamos como Dédalo? Quantos “labirintos”
em nossa mente e em nosso espírito nós mesmos criamos para isolar nossos
monstros, e no fim, acabamos por estarmos presos junto deles, sem conseguir
encontrar uma saída? Quantos desses monstros devoradores de gente que nos
cercam são como o Minotauro, resultado de acúmulo de medos, desprezos e
negações desde nossa mais tenra infância?
Quantos de nós já desistiram, e vivem apenas se esgueirando
nesses obscuros corredores da mente, apenas torcendo para que o Minotauro não
os encontre? Quantos outros decidiram de corpo e alma encarar o desafio e
encontrar a saída? Para esses, fica a pergunta: quais são os nossos recursos
disponíveis, ou que podem ser desenvolvidos, para encarar a saída desse
labirinto?
A busca de Dédalo pela sua liberdade de algo que ele mesmo
criou é metáfora viva das coisas que nós também criamos e acabamos
aprisionados. Valer-se de todo o seu conhecimento e autoconhecimento, de sua
engenhosidade e de seus dons foi o que salvou Dédalo. Resta-nos elevar nossa
visão e perceber em que pontos de nossa vida estamos em emaranhados
aparentemente insolúveis, nos quais cada vez nos embrenhamos na escuridão mais
e mais. Quais padrões de comportamento vamos repetindo e repetindo obtendo
resultados pífios. Quais modelos de pensamento que nos causam apenas dor, em
nome de uma pretensa segurança.
Não há quem não viva em seus labirintos. Não há quem não
conviva com seus Minotauros. Há, porém, os que procuram olhar ao redor e
interpretar o aqui e agora além de seus próprios mapas mentais, e a todo amanhecer
não apenas torcem para encontrar saídas, mas vão se nutrindo física, mental e
espiritualmente para complementar a empreitada que chegará com a luz do portão
de saída.
Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli
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