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segunda-feira, 24 de julho de 2017

Pode Ser

"Era uma vez um fazendeiro chinês. Um dia, um de seus cavalos fugiu. Seus vizinhos vieram até ele, comentando como aquele acontecimento era um infortúnio. O fazendeiro respondeu: “pode ser”.
No dia seguinte, o cavalo que fugiu voltou, trazendo com ele sete cavalos selvagens. Os vizinhos apareceram novamente, dizendo que isso era uma grande sorte. O fazendeiro respondeu: “pode ser”.
Depois disso, o filho do fazendeiro tentou domar um dos cavalos selvagens e caiu, quebrando uma perna. Os vizinhos vieram lamentar o ocorrido, dizendo que aquilo era muito ruim. O fazendeiro respondeu: “pode ser”.
No dia seguinte, oficiais do exército que estava recrutando soldados apareceram, mas não levaram o filho do fazendeiro por conta da sua perna quebrada. Os vizinhos vieram ao fazendeiro falando sobre como aquilo era ótimo, e ele respondeu: “pode ser”.
A velha parábola acima vem nos despertar para que o que chamamos de realidade seja, na verdade, perspectiva. Todos os acontecimentos podem ser interpretados a partir de diferentes pontos de vista.
Nossas crenças inconscientes e experiências passadas agem como verdadeiros filtros que regulam nossa capacidade de olhar para a realidade do que está acontecendo conosco e no mundo. Um dos preceitos básicos da Programação Neurolinguística (PNL) é que "o mapa não é o território", ou seja nossa perspectiva (o mapa) é uma representação da realidade (o território).  Assim, nossos mapas apenas definem o que acreditamos ser o território por onde andamos.
Reestruturar contextos e conteúdos de modo que encontremos significados mais úteis para qualquer experiência, a fim de que possamos torná-las algo que trabalhe positiva e construtivamente por nós, e não destrutivamente contra nos, é a chave do sucesso nessa questão. É o que a PNL chama de "ressignificação".
Ainda que os fatos por si só sejam neutros, de nenhum modo reestruturar ou ressignificar contextos ou conteúdos quer dizer que determinados acontecimentos não sejam problemas reais. Não é negá-los. É, sim, ter uma conversa interna de modo que a criatividade aflore com respostas que serão muito mais ricas e inspiradoras. Pense como um general que, ao ter recuar em uma batalha, vê o movimento como "o avanço em outra direção". 
Nossa interpretação do que acontece é que será determinante na forma como lidaremos com os fatos. É um grande desafio, sem dúvida. Pode requerer prática constante. Contudo, é um desafio capaz de nos conceder o poder de decisão entre a escolha consciente de nossas reações ou entregar-se automaticamente à dimensão de vítima sem recursos.
É um exercício onde, como diria o velho fazendeiro chinês, tudo "pode ser" algo mais.
Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Faltou um "superouvido" para um "batpapo".


Uma noite dessas, tirei uns minutos para assistir televisão. Trocando de canal aqui e ali, me deparei com o filme Super Homem Vs Batman - A Origem da Justiça (Warner Bros., 2016). Eu só queria assistir um pouco de TV. E acabei assistindo o filme todo.


Como o título já informa, sabe-se que é um filme sobre super-heróis. Esperam-se cenas cheias de efeitos especiais, uma história que normalmente não empolga muito os fãs das histórias em quadrinhos e, acima de tudo, um final feliz, onde o bem prevaleça. Spoilers  


Divulgação: DC Comics

à parte, é isso mesmo que acontece. O que me chamou a atenção mesmo foi ver de que forma dois ícones ultra populares do bem e da justiça poderiam ser colocados um contra o outro. O que teria motivado dois dos super-heróis mais famosos dos quadrinhos a lutarem um contra o outro?

O que gerou o conflito?

Ambos são personagens do bem. Protegem os cidadãos de suas respectivas cidades contra vilões insanos e alienígenas perversos. São exemplos de conduta. Mesmo assim, suas identidades reais permanecem secretas. São os "heróis"!

De repente, suas atitudes de proteger a lei e a ordem começam a ser questionadas. Uma nova visão da realidade começa a tomar de assalto corações e mentes: o Batman tem informações de um sujeito voador, em Metropolis, que é tão poderoso quanto um deus, e que toma decisões por conta própria para defender o que entende como certo. Já o Super-Homem passa a ouvir falar de um certo homem-morcego de Gotham City que faz justiça conforme suas próprias leis. Começam a enxergar um ao outro como uma ameça. Como cada um deles quer realizar seu trabalho de defender o que entende por "bem", acabam por se enfrentar.

Os dois têm o mesmo ideal. E, ainda assim, se acusam. Entram em choque. E lutam. E lutam muito.

Ocorreu-me que algo semelhante acontece nos conflitos que presenciamos e enfrentamos em nossas vidas. Nem sempre nossos conflitos originam-se de diferenças. Por algumas vezes, eles podem mesmo é nascer das semelhanças.

Somos pessoas trilhando nossos caminhos pela vida. Pode ocorrer que, no ponto onde me encontro em minha senda, entre na minha vida alguém que está indo para outro lugar, mas que, nesse momento, está compartilhando esse mesmo ponto da estrada. Eu tenho minhas necessidades, e a outra pessoa tem as dela. Eu tenho meus medos, a outra pessoa tem os seus. Eu tenho meus modelos próprios de justiça e injustiça, a outra pessoa também. Eu tenho meu caminho a trilhar. A outra pessoa, idem. Mesmo assim, podemos nos ver como ameças uns aos outros.

Um conflito é um choque de necessidades.

Eu acredito nas relações ganha-ganha. Todos ganham, nem que seja um pouco, de cada vez. Só que, para isso, deve haver o encorajamento de uma comunicação clara e transparente durante todo o processo, de modo que ações preventivas minimizem as possibilidades de conflitos, ou ainda, com a situação de conflito já posta, que haja um canal de comunicação sempre aberto para negociação e convivência, nem que inicialmente seja através de um intermediador.

Comunicação clara e transparente. Capacidade de procurar entender o mundo do outro.  Inteligência emocional. Coisas que faltaram ao Super-Homem e ao Batman. No fim, descobrem-se mais parecidos do que imaginavam. 

Cuidemos que nossos conflitos não sejam armas de nossos vilões insanos internos e alienígenas perversos que vivem corroendo nossa mente, e que causam interferência em nossa capacidade de ouvir ativamente o outro, ou de expressar o que sentimos. Que petrificam nossa empatia e que impedem a administração de nossas emoções.

Que dois seres que defendem o bem não entrem nunca mais em conflito.

Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli.