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quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

O paradoxo do queijo suíço

Certa vez, em algum lugar, em algum momento da minha vida, li esse paradoxo, o qual nunca esqueci. Sempre que o citava para alguém, era para descontração. Até que, outro dia,  dei-me conta da profundidade que aquela aparente brincadeira trazia em si:

"Um queijo suíço tem buracos
quanto mais queijo, mais buracos
cada buraco ocupa um lugar onde deveria haver queijo
quanto mais buracos, menos queijo
então
                                                                               quanto mais queijo, menos queijo!".

Com esse paradoxo em mente, refleti: o que em nossa vida vem tendo a mesma funcionalidade do "quanto mais, menos"? Quais são os comportamentos que não conseguimos mudar, e que sabemos que só nos causam mais e mais espaços vazios? No que abusamos ou nos excedemos, para logo descobrirmos que estávamos indo em direção ao "nada"? Quantas de nossas atitudes "sins" estão carregadas de sentimentos "nãos"? Quais os excessos que cometemos que, no final das contas, nos deixam com a sensação de "menos" do que de "mais"?

Haverá em nossa vida hábitos que, embora bem intencionados, foram mal administrados e acabaram virando sorrateiros e corrosivos vícios?

Ao contrário do queijo suíço, nós temos escolha de não cultivarmos tantos espaços vazios. Precisamos olhar para nós mesmos e descobrir maneiras de fazer o máximo com o mínimo que tivermos. Nesse contexto, a máxima "menos é mais" cabe muito bem, desde que o sentimento de plenitude ocupe com harmonia os espaços incompletos de nossa existência.


Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli


quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Não basta querer. E também não basta agir.

A teoria da Inteligência Emocional baseia-se na hipótese de que nosso cérebro é formado por três níveis: o mais primordial, responsável basicamente pelas atitudes de luta ou fuga; o cérebro límbico, onde ficam armazenadas memórias de experiências e emoções ligadas a elas; e um cérebro racional, o neocórtex, o grande responsável por nossa capacidade analítica. Apesar de parecer que é no neocórtex que nossas decisões são tomadas, a disposição física e biológica de determinadas áreas cerebrais faz com que nossas respostas provenham primeiramente do cérebro emocional, para, só depois, serem racionalizadas. Por isso, a importância de estarmos conscientes de nossas emoções, e do peso que elas têm em nosso comportamento e no nosso agir. De outra forma, seguiremos sendo “enganados” por uma suposta racionalidade em nossas atitudes, o que pode ser apenas uma ilusão. Antes sentimos, depois refletimos. Isso, caso ainda haja tempo para o neocórtex agir antes de uma atitude ou de uma tomada de decisão.

O que define aquilo que você chama de “eu”? Será o seu corpo? Sua mente? Sua alma? Suas crenças? Sim, pode ser tudo isso. Porém, no fim das contas, o que rege tudo o que  conceituamos como “eu” são nossas emoções e sentimentos. O que molda nossa  personalidade é o conteúdo e a forma com que nossas emoções permeiam nosso ser. E aí que está o grande desafio:  temos um ego, uma parte psíquica que vive nos protegendo do que julga ser perigoso. E, para o ego, o “desconhecido”, o  “novo”, pode soar perigoso. Para não abrirmos mão do que chamamos de “eu”, nos aferramos a um mindset, um padrão mental já conhecido. Nos viciados em nós mesmos. Consequentemente, tornamo-nos verdadeiros viciados em nossas próprias emoções.

Quando vamos em busca de um objetivo, temos despertado um querer. Então, do querer, deve vir o agir. Mas não basta querer. E também, não basta agir. Caso esse querer e esse agir estejam em nível puramente racional, o mais provável que acontecerá é que esse objetivo não seja alcançado, pois ele não está alinhado com o sentir, que é o que vai mesmo te mover até o objetivo.

São nas nossas emoções e nos nossos sentimentos onde estão nossos verdadeiros “quereres”. Se digo que quero economizar para comprar um carro, por exemplo, e isso está em nível apenas racional, é capaz de até conseguir juntar algum dinheiro durante dois ou três meses. Daqui a pouco, ao invés de reservar o dinheiro para o carro, me vejo gastando com algo supérfluo. Isso não quer dizer que sou incapaz de atingir meus objetivos. Isso quer dizer que meus sentimentos com relação a esse objetivo não estão bem claros ou alinhados com esse objetivo.  Então, sigo alimentando meu vício emocional do meu próprio “eu”.

Essa gama de emoções que serão o firme alicerce da conquista de um objetivo demandam também dedicação e foco.  Porém, não no modelo racional da dedicação, em que pode haver mais sofrimento do que prazer no caminho. Não no modelo do “tenho que” fazer tal coisa. Mas sim, no modelo do “eu escolho” fazer tal coisa, “eu DE VERDADE escolho esse objetivo para mim”. Esse é o padrão que produz a resposta emocional do querer, esse é o padrão que nos defenderá das temerárias atitudes autossabotadoras, as quais só nos causam frustração e culpa e aumentam nosso vício em emoções e necessidades que nem ao certo estamos muito conscientes.

“Querer” e “sentir” devem estar na mesma sintonia quando temos um sonho. Em muitos casos, além de buscarmos aprender novas formas de chegar lá, precisaremos também desaprender certas crenças e sentimentos limitantes.

Até quando vamos continuar preferindo os ganhos secundários de nossas pequenas traições diárias? Até quando os programas automáticos memorizados em nosso corpo e alma nos controlarão? Até quando insistiremos em quereres os quais não nos causam nenhum brilho nos olhos? Até quando deixaremos de sermos protagonistas de nossas vidas? Até quando nossa história será contada em terceira pessoa?

Convido-lhe a um diálogo com suas próprias emoções. Reconheça-as. Observe seus pensamentos.  Sinta quem ou o que você é, e não quem quer parecer ser.  Não podemos deixar para depois, pois quanto mais a vida avança sem esse controle, mais à mercê de padrões subconscientes ficamos. Nesse processo, não há ninguém julgando, dizendo se está certo ou errado Só há você.

Querer e agir. Acima de tudo, sentir.


Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli