A teoria da Inteligência
Emocional baseia-se na hipótese de que nosso cérebro é formado por três níveis:
o mais primordial, responsável basicamente pelas atitudes de luta ou fuga; o
cérebro límbico, onde ficam armazenadas memórias de experiências e emoções
ligadas a elas; e um cérebro racional, o neocórtex, o grande responsável por
nossa capacidade analítica. Apesar de parecer que é no neocórtex que nossas
decisões são tomadas, a disposição física e biológica de determinadas áreas
cerebrais faz com que nossas respostas provenham primeiramente do cérebro
emocional, para, só depois, serem racionalizadas. Por isso, a importância de
estarmos conscientes de nossas emoções, e do peso que elas têm em nosso
comportamento e no nosso agir. De outra forma, seguiremos sendo “enganados” por
uma suposta racionalidade em nossas atitudes, o que pode ser apenas uma ilusão.
Antes sentimos, depois refletimos. Isso, caso ainda haja tempo para o neocórtex
agir antes de uma atitude ou de uma tomada de decisão.
O que define aquilo que você
chama de “eu”? Será o seu corpo? Sua mente? Sua alma? Suas crenças? Sim, pode
ser tudo isso. Porém, no fim das contas, o que rege tudo o que conceituamos como “eu” são nossas emoções e
sentimentos. O que molda nossa personalidade é o conteúdo e a forma com que
nossas emoções permeiam nosso ser. E aí que está o grande desafio: temos um ego, uma parte psíquica que vive nos
protegendo do que julga ser perigoso. E, para o ego, o “desconhecido”, o “novo”, pode soar perigoso. Para não abrirmos
mão do que chamamos de “eu”, nos aferramos a um mindset, um padrão mental já conhecido. Nos viciados em nós mesmos.
Consequentemente, tornamo-nos verdadeiros viciados em nossas próprias emoções.
Quando vamos em busca de um
objetivo, temos despertado um querer. Então, do querer, deve vir o agir. Mas
não basta querer. E também, não basta agir. Caso esse querer e esse agir
estejam em nível puramente racional, o mais provável que acontecerá é que esse
objetivo não seja alcançado, pois ele não está alinhado com o sentir, que é o
que vai mesmo te mover até o objetivo.
São nas nossas emoções e nos
nossos sentimentos onde estão nossos verdadeiros “quereres”. Se digo que quero
economizar para comprar um carro, por exemplo, e isso está em nível apenas
racional, é capaz de até conseguir juntar algum dinheiro durante dois ou três
meses. Daqui a pouco, ao invés de reservar o dinheiro para o carro, me vejo
gastando com algo supérfluo. Isso não quer dizer que sou incapaz de atingir
meus objetivos. Isso quer dizer que meus sentimentos com relação a esse
objetivo não estão bem claros ou alinhados com esse objetivo. Então, sigo alimentando meu vício emocional do
meu próprio “eu”.
Essa gama de emoções que serão o
firme alicerce da conquista de um objetivo demandam também dedicação e
foco. Porém, não no modelo racional da
dedicação, em que pode haver mais sofrimento do que prazer no caminho. Não no modelo
do “tenho que” fazer tal coisa. Mas
sim, no modelo do “eu escolho” fazer
tal coisa, “eu DE VERDADE escolho esse
objetivo para mim”. Esse é o padrão que produz a resposta emocional do
querer, esse é o padrão que nos defenderá das temerárias atitudes
autossabotadoras, as quais só nos causam frustração e culpa e aumentam nosso
vício em emoções e necessidades que nem ao certo estamos muito conscientes.
“Querer” e “sentir” devem estar
na mesma sintonia quando temos um sonho. Em muitos casos, além de buscarmos aprender
novas formas de chegar lá, precisaremos também desaprender certas crenças e
sentimentos limitantes.
Até quando vamos continuar
preferindo os ganhos secundários de nossas pequenas traições diárias? Até
quando os programas automáticos memorizados em nosso corpo e alma nos controlarão?
Até quando insistiremos em quereres os quais não nos causam nenhum brilho nos
olhos? Até quando deixaremos de sermos protagonistas de nossas vidas? Até
quando nossa história será contada em terceira pessoa?
Convido-lhe a um diálogo com suas próprias emoções. Reconheça-as. Observe seus pensamentos. Sinta quem
ou o que você é, e não quem quer parecer ser. Não podemos deixar para depois, pois quanto
mais a vida avança sem esse controle, mais à mercê de padrões subconscientes
ficamos. Nesse processo, não há ninguém julgando, dizendo se está certo ou
errado Só há você.
Querer e agir. Acima de tudo,
sentir.
Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli