Você lembra quando ganhou sua primeira bicicleta? Lembra da expectativa, do tempo que precisou esperar, da incerteza se ganharia ou não?
Caso tenha tido esse momento em sua infância, procure lembrar-se dele. Da ocasião, da sua emoção, das pessoas que estavam ao redor, das cores, dos cheiros, dos sons... reviva esse momento!
Depois, você criou coragem para subir na bicicleta. Provavelmente, ela tinha rodinhas, e você só conseguia ir para a frente, e a balançava de um lado para o outro confiando nas rodinhas! Aos poucos, foi atrevendo-se a fazer curvas, foi percebendo o quanto o guidom precisava e podia ser movimentado para não cair e fazer a curva perfeitamente. Foi desenvolvendo equilíbrio suficiente para não encostar mais as rodinhas no chão, desafiando-se a ir o mais longe possível sem ouvir o som delas girando.
Então, chega o dia que você vê sua bicicleta sem rodinhas.
Você já é capaz de andar sem rodinhas, mas a simples lembrança que não as tem causa desequilíbrio e assim, vem um tombo. Levanta, afinal, sempre te disseram que cair de uma bicicleta é parte do aprendizado, para logo cair de novo. E de novo. As cicatrizes, arranhões e ferimentos vão se tornando parte de sua rotina, até um momento que esse aprendizado está deixando de ser divertido. Joelhos, cotovelos, canelas, costas, seu corpo está cheio de escalavrões.
Aí também você percebe que, mesmo com muitas feridas pelo corpo, elas têm o seu tempo, e vão cicatrizando. E você percebe que cada vez mais seu equilíbrio torna-se melhor, assim como suas pedaladas vão ficando mais firmes. Cada vez mais equilíbrio, e mais atitude.
Chego à conclusão que a vida é sobre andar de bicicleta. É viver a emoção dos nossos melhores momentos como se fôssemos aquela criança que ganhou sua primeira bicicleta. É ser humilde o suficiente para aceitarmos as rodinhas, sabendo que elas serão apenas amigas temporárias em nossa evolução. É ousar, fazer curvas e manobras as quais não estamos muito certos do desfecho, mas sempre aprender com essa ousadia. É inevitavelmente cair, e ao cair, não pensar muito, montar de novo e sair pedalando antes que o medo que nosso ego nos oferecerá tome conta de nós. É entender que andar de bicicleta requer equilíbrio, assim como fazemos ao identificar e gerenciar nossas emoções, e também atitude, pois sem atitudes, não evoluímos na vida, nem geramos pedaladas para nos mantermos em pé.
Essa criança corajosa que um dia você foi está aí dentro, ainda. Pode até não ter sido de bicicleta, mas se você levantou de todos os tombos que você tomou até hoje da vida, agradeça àquela criança. Ela nunca desistiu de você.
Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli
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