"Pane no sistema, alguém me desconfigurou/Aonde estão meus olhos de robô?/Eu não sabia, eu não tinha percebido/Eu sempre achei que era vivo/Parafuso e fluido em lugar de articulação/Até achava que aqui batia um coração/Nada é orgânico, é tudo programado/E eu achando que tinha me libertado/
Mas lá vêm eles novamente, eu sei o que vão fazer/Reinstalar o sistema"
Assim é a letra da música "Admirável Chip Novo", da cantora Pitty. O robô acha que é um ser vivo, mas na verdade, ele é apenas manipulado por um sistema programado. E assim como ele, nós também.
O resultado final dessa manipulação se apresenta em forma de atitudes e comportamentos. O que fazemos, como reagimos, como lidamos com as situações do dia-a-dia, como nos relacionamos, tudo isso está relacionado a significados que vamos dando ao mundo ao longo a vida. E isso inclui os comportamentos dos quais costumamos nos arrepender, que nos sabotam e que nos limitam.
"Pense, fale, compre, beba/Leia, vote, não se esqueça/Use, seja, ouça, diga/Tenha, more, gaste, viva"
Dentro dos estudos da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), nossas atitudes e comportamentos provêm de emoções, que são geradas por pensamentos, os quais são oriundos de nossos esquemas cognitivos ou crenças, como mais comumente se chamam. Como Coach alinhado à adaptação da TCC aos casos não-clínicos, o Coaching Cognitivo-Comportamental presencia essa realidade diariamente. Os comportamentos que temos tendem a vir de pensamentos automáticos, impregnados de emoção, e seguramente amparados na visão de mundo mais perfeita que cada um de nós conseguiu montar. E essa visão de mundo é como um verdadeiro iceberg, o qual só racionalizamos uma pequena parte. É a maior parte, submersa, obscura e desconhecida quem te manipula na maior parte do tempo.
Mudar comportamentos a partir dos próprios comportamentos é a mesma coisa que podar os galhos mais superficiais e as folhas de uma árvore. Enquanto a raiz estiver lá, os velhos padrões de comportamento voltarão. Isso porque a programação de uma árvore é funcionar assim. E de nossos comportamentos também.
Na letra da Pitty, a primeira mudança que o robô teve de verdade foi perceber que ele não era um ser vivo, adquirindo a consciência de que ele era mesmo um robô. Confesso que no meu próprio processo de Coaching essa descoberta foi muito dolorosa. Descobrir que somos manipulados por crenças que nos impulsionam a comportamentos maléficos e limitantes pode ser chocante. Nossa primeira reação é a de resistir. Assim, aquilo de comportamento que está nos prejudicando precisa ser trabalhado a partir dos esquemas cognitivos, despertar para quais os pensamentos e quais emoções amparam esses esquemas para, por fim, chegar a fazer diferente.
Ou nos damos conta de nossos comportamentos e atitudes limitantes de uma vez, ou ficamos à mercê dessa manipulação, a qual somos vulneráveis enquanto não entendermos nosso próprio funcionamento.
"Mas lá vem eles novamente, eu sei o que vão fazer/Reinstalar o sistema".
Os sistemas estão no ar, nos nossos significados da infância, na rua, nas redes sociais, na TV, na família, no casamento. Ou você os escolhe, ou eles serão instalados sem sua permissão. Ou você programa suas atitudes para que se alinhem à felicidade, equilíbrio e plenitude, ou o mundo se encarregará de fazer isso de qualquer jeito. E aí, seus comportamentos, que aparentemente são unicamente seus, estarão, na verdade, fora de seu controle.
Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli
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