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sexta-feira, 31 de maio de 2019

O labirinto do Minotauro


Conta a mitologia grega sobre Dédalo, um grande engenheiro e inventor que, certa feita, foi requisitado pelo Rei Minos para construir um imenso labirinto que pudesse aprisionar um ser metade homem, metade touro, o Minotauro. Esse ser, por sua aparência medonha, foi menosprezado por toda a sua vida, tornando-se um monstro enfurecido que se alimentava de carne humana.
Aceitando a empreitada, Dédalo iniciou o trabalho da construção do labirinto utilizando todo o seu conhecimento. Eis que, de repente, seu trabalho tornou-se tão perfeito que ele mesmo se viu aprisionado dentro do próprio labirinto que construíra, junto com o Minotauro que vagava pelos corredores de idas e vindas do local. Dédalo, a muito custo, alcançou a saída, não sem antes ter tido que encarar o medo de não conseguir encontrar sua liberdade e ser devorado.
***
Quantas vezes em nossas vidas acabamos como Dédalo? Quantos “labirintos” em nossa mente e em nosso espírito nós mesmos criamos para isolar nossos monstros, e no fim, acabamos por estarmos presos junto deles, sem conseguir encontrar uma saída? Quantos desses monstros devoradores de gente que nos cercam são como o Minotauro, resultado de acúmulo de medos, desprezos e negações desde nossa mais tenra infância?
Quantos de nós já desistiram, e vivem apenas se esgueirando nesses obscuros corredores da mente, apenas torcendo para que o Minotauro não os encontre? Quantos outros decidiram de corpo e alma encarar o desafio e encontrar a saída? Para esses, fica a pergunta: quais são os nossos recursos disponíveis, ou que podem ser desenvolvidos, para encarar a saída desse labirinto?
A busca de Dédalo pela sua liberdade de algo que ele mesmo criou é metáfora viva das coisas que nós também criamos e acabamos aprisionados. Valer-se de todo o seu conhecimento e autoconhecimento, de sua engenhosidade e de seus dons foi o que salvou Dédalo. Resta-nos elevar nossa visão e perceber em que pontos de nossa vida estamos em emaranhados aparentemente insolúveis, nos quais cada vez nos embrenhamos na escuridão mais e mais. Quais padrões de comportamento vamos repetindo e repetindo obtendo resultados pífios. Quais modelos de pensamento que nos causam apenas dor, em nome de uma pretensa segurança.
Não há quem não viva em seus labirintos. Não há quem não conviva com seus Minotauros. Há, porém, os que procuram olhar ao redor e interpretar o aqui e agora além de seus próprios mapas mentais, e a todo amanhecer não apenas torcem para encontrar saídas, mas vão se nutrindo física, mental e espiritualmente para complementar a empreitada que chegará com a luz do portão de saída.

Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli


terça-feira, 7 de maio de 2019

Inteligência para resiliência

Termo que vem primordialmente da física, e que conceitua o quanto de energia ou pressão um material consegue suportar sem se romper e voltar ao seu estado anterior, “resiliência” tem sido também, nos últimos anos, um termo utilizado para designar o quanto de reveses e intempéries uma pessoa é capaz de suportar física, mental, espiritual e emocionalmente. É uma palavra que está no vocabulário atual, a ponto de algumas pessoas reconhecerem-se como “resilientes”.

Que a vida vai nos apresentar contextos desafiadores é fato. Que seremos personagens de contextos indesejados também. Assim, “ser resiliente” parece ser uma habilidade vantajosa de ser desenvolvida.

Mas como?

Só se conhece a resiliência de um material quando ele é testado na pressão. Será que para conhecermos nossa resiliência pessoal também precisamos de uma forte dose de sofrimento? E se não “passarmos no teste”, e nos despedaçarmos, nos mais diversos sentidos?

Suportar o sofrimento estoicamente até pode ter um quê de admirável, de romântico, do arquétipo de guerreiro. No fundo, se esse sofrimento não gerar aprendizado potencializador, acabará sendo perdida uma grande chance de evolução. Pensemos que, antes de associarmos resiliência pessoal à capacidade de aguentar o sofrimento por si só, a associemos à inteligência de encontrar as melhores estratégias para conviver e superar o contexto indesejado em que nos encontramos. Inteligência, aqui, trazida como uma capacidade de se resolver problemas com uma visão de futuro.

Encontrar caminhos, desenvolver táticas, aprimorar flexibilidade, fazer uso de nossas faculdades cognitivas e comunicativas, autoconhecer-se, agir ou não agir, todas essas são formas estratégicas de sermos resilientes em momentos de sofrimento. Pensemos que, de qualquer forma, a pressão continuará sendo exercida sobre nós, teremos que ser “fortes” de qualquer jeito, a diferença é que essa resiliência estratégica nos proporciona muito mais potencial para suplantarmos esses momentos e, finalmente, voltarmos a nossa forma inicial. Lembremos que essa é uma grande vantagem que temos sobre a borracha, o concreto, ou outro material sujeito a um teste de resiliência: a esses, só lhes resta suportar. A nós, é dado o dom da inteligência.


O sofrimento ou nos humaniza, ou nos embrutece. São nossas estratégias de resiliência que definirão o resultado.



Grato pela confiança,
Marcelo Pelissiloli