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segunda-feira, 1 de julho de 2019

O filho de Dédalo


Não bastassem os apuros vividos por Dédalo para conseguir a liberdade do labirinto que ele mesmo havia criado, a mitologia grega nos oferece a continuação de sua história.
Eis que Dédalo e seu filho, Ícaro, encontram abrigo e amizade em um reino onde são tratados com distinção. Vivem bem, até que Dédalo acaba por repetir antigos erros e acaba preso em uma ilha, juntamente com seu filho. Não encontrando saída, dessa vez, Dédalo e Ícaro criam um plano de fuga que consiste em encontrar cera e penas de aves para criarem asas, as quais possam os fazer voar para fora da ilha. Após algum tempo, e com as asas criadas, Dédalo adverte Ícaro que, ao voarem , não deverão voar tão baixo que possam molhar as penas das asas no mar, nem tão alto que o calor do sol possa derreter a cera.
O plano deu certo. Conseguiram, pai e filho, alçar voo. Ícaro, porém, deslumbrado com o poder de suas asas, voou alto demais, o que acabou por derreter de fato a cera das asas, causando sua queda e morte. A Dédalo, não restou nada mais a não ser lamentar pelo resto da vida.
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Repetir erros passados não quer dizer necessariamente que somos ruins ou incapazes. Talvez, não seja nem verdade que repetimos erros, propriamente. O que fazemos mesmo é repetirmos padrões. Mesmo sabendo que nossos resultados serão desastrosos, uma força estranha nos impossibilita de fazermos diferente, e vamos repetindo velhos comportamentos ao longo da vida. Mesmo sendo nítidos os maus resultados provenientes desses comportamentos, insistimos em não querer agir diferente, ou pelo menos darmos uma chance ao novo.
De tais padrões obsoletos, já sabemos de antemão que precisaremos de força extra para elaborarmos nossas “fugas”, criarmos nossas “asas” para superar tais momentos. E assim vamos seguindo, pela vida. Quando, depois do planejamento, estamos a ponto de superar as adversidades e executar o plano, ou acabamos “voando tão baixo” que nosso voo acaba sendo impedido, ou nos deslumbramos com a paisagem sem considerar os riscos propriamente.  Seguimos contornando problemas, ao invés de resolvê-los. E a perspectiva é que problemas não encarados exijam nossa atenção até que, ou eles acabem conosco, ou nós os resolvamos.
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A figura icônica de Ícaro, nessa estória, não apenas representa o encantamento de ser capaz de alçar altos voos precipitadamente, mas também representa o futuro de Dédalo, em uma metáfora do filho sendo a vida futura do pai. Dédalo, que em sua vida teve diversas boas oportunidades e reconhecimento, colocando tudo a perder mais de uma vez, acaba vendo o filho (futuro) morrendo mesmo tendo sendo orientado sobre a melhor forma de voar.
No final das contas, qual a utilidade das melhores orientações, quando a prática não condiz com o que aprendemos?
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Caro leitor, que nossos erros do passado sejam professores de duras lições, as quais, quanto mais rápido aprendermos, mais instrumentalizados para a vida seremos. Que sejamos capazes de reconhecer nossos padrões financeiros, profissionais, sentimentais, e pessoais que vão se repetindo, e sermos capazes de entender se eles nos potencializam ou nos limitam. Que no nosso futuro próximo, nossos voos sejam sustentáveis, nem tão altos nem tão baixos: apenas o suficiente para que alcancemos nossa liberdade.

 

Grato pela confiança,

Marcelo Pelissioli
 
 

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