Não bastassem os apuros vividos por Dédalo para conseguir a
liberdade do labirinto que ele mesmo havia criado, a mitologia grega nos
oferece a continuação de sua história.
Eis que Dédalo e seu filho, Ícaro, encontram abrigo e
amizade em um reino onde são tratados com distinção. Vivem bem, até que Dédalo
acaba por repetir antigos erros e acaba preso em uma ilha, juntamente com seu
filho. Não encontrando saída, dessa vez, Dédalo e Ícaro criam um plano de fuga
que consiste em encontrar cera e penas de aves para criarem asas, as quais
possam os fazer voar para fora da ilha. Após algum tempo, e com as asas
criadas, Dédalo adverte Ícaro que, ao voarem , não deverão voar tão baixo
que possam molhar as penas das asas no mar, nem tão alto que o calor do sol
possa derreter a cera.
O plano deu certo. Conseguiram, pai e filho, alçar voo.
Ícaro, porém, deslumbrado com o poder de suas asas, voou alto demais, o que
acabou por derreter de fato a cera das asas, causando sua queda e morte. A
Dédalo, não restou nada mais a não ser lamentar pelo resto da vida.
***
Repetir erros passados não quer dizer necessariamente que
somos ruins ou incapazes. Talvez, não seja nem verdade que repetimos erros,
propriamente. O que fazemos mesmo é repetirmos padrões. Mesmo sabendo
que nossos resultados serão desastrosos, uma força estranha nos impossibilita
de fazermos diferente, e vamos repetindo velhos comportamentos ao longo da
vida. Mesmo sendo nítidos os maus resultados provenientes desses
comportamentos, insistimos em não querer agir diferente, ou pelo menos darmos
uma chance ao novo.
De tais padrões obsoletos, já sabemos de antemão que
precisaremos de força extra para elaborarmos nossas “fugas”, criarmos nossas
“asas” para superar tais momentos. E assim vamos seguindo, pela vida. Quando,
depois do planejamento, estamos a ponto de superar as adversidades e executar o
plano, ou acabamos “voando tão baixo” que nosso voo acaba sendo impedido, ou
nos deslumbramos com a paisagem sem considerar os riscos propriamente. Seguimos contornando problemas, ao invés de
resolvê-los. E a perspectiva é que problemas não encarados exijam nossa atenção
até que, ou eles acabem conosco, ou nós os resolvamos.
***
A figura icônica de Ícaro, nessa estória, não apenas
representa o encantamento de ser capaz de alçar altos voos precipitadamente,
mas também representa o futuro de Dédalo, em uma metáfora do filho sendo a vida
futura do pai. Dédalo, que em sua vida teve diversas boas oportunidades e
reconhecimento, colocando tudo a perder mais de uma vez, acaba vendo o filho
(futuro) morrendo mesmo tendo sendo orientado sobre a melhor forma de voar.
No final das contas, qual a utilidade das melhores
orientações, quando a prática não condiz com o que aprendemos?
***
Caro leitor, que nossos erros do passado sejam professores
de duras lições, as quais, quanto mais rápido aprendermos, mais
instrumentalizados para a vida seremos. Que sejamos capazes de reconhecer
nossos padrões financeiros, profissionais, sentimentais, e pessoais que vão se
repetindo, e sermos capazes de entender se eles nos potencializam ou nos
limitam. Que no nosso futuro próximo, nossos voos sejam sustentáveis, nem tão
altos nem tão baixos: apenas o suficiente para que alcancemos nossa liberdade.
Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli
Nenhum comentário:
Postar um comentário