Já fazia tempo que praticava
corrida e me sentia bem. Fazia bastante esforço, abria mão de fazer outras
coisas, treinava, deixava a preguiça de lado e corria. Todos os dias.
Tinha orgulho de estar correndo
entre outros corredores notadamente mais experientes e bem melhor preparados do
que eu. Apesar de meus resultados muito abaixo do que eu gostaria, eu estava
lá, no meio, me esforçando.
Apesar de tudo, os resultados
eram ruins. Normalmente, chegava do meio para o fim do total dos participantes
nas corridas, apesar de todo o treino, dedicação, estudos, pesquisas e controle
de alimentação.
Eu comecei a botar na cabeça que “bem,
se meus resultados não são tão bons, tudo bem, pelo menos estou fazendo algo
pela minha saúde, e isso é o mais importante. Preciso perseverar e continuar
correndo.
Até que veio a primeira lesão,
por excesso. E o que era para ser saudável se tornou um problema de saúde.
Então me recuperei como foi
possível, e voltei a correr. Pois a saúde agradeceria.
Não agradeceu muito. Veio a
segunda lesão. E bem pior.
Agora, eu não tinha nem bons
resultados nas corridas e nem estava colaborando com minha saúde com o que eu
estava fazendo. Vivi o famoso “murro em ponta de faca.” Continuar para quê?
Bem, eu me recuperei e continuei correndo.
Mas já não mais tanto com as pernas. Hoje, corro com a cabeça e o coração.
***
Quantos de nós, que estamos lendo
esse singelo texto, já se pegaram em suas vidas enaltecendo seus esforços e
ignorando os resultados? Quantas vezes a vida vira um mero exercício de
sobrevivência a cada novo dia, sem nos darmos conta que estamos tendo não mais do que migalhas
de ganhos? Quanto tempo, força e energia desperdiçados para tão pouco retorno?
Quanta insistência em projetos
sem perspectiva, em querer mudar pessoas, em nos apegarmos a crenças obsoletas,
em suportar stress, em achar que
estamos sempre certos, quando estamos, no fim das contas, dilapidando nossa
própria existência.
***
Quanta corrida fiz que, no final
das contas, foi mais um furacão que me levou de arrasto no desvario impensado
dos dias, semanas, meses e anos sem reflexão e retomada de controle do que oportunidade
de exercer minha própria vontade em fazer o que era melhor para mim.
Quanta corrida errada. Não quero
mais.
Quero correr certo. Do jeito que
dá certo. E vou aprender medindo meus resultados ao longo do tempo. Estudando.
Observando. Ouvindo. Experimentando. Sentindo.
Meus esforços são só meus, e eles
por si mesmos não me trazem nada. São os resultados que vêm de meus esforços e
de minha experiência que devem valer a pena. Por algum motivo obscuro, nos
orgulhamos de nossos sofrimentos, mesmo quando os resultados, sejam eles quais
forem, não servem para quase nada.
***
Hoje, eu sigo correndo. Persistindo.
Não se pode parar. Só que agora, sigo sob a perspectiva dos
resultados bons que minhas limitações de ser humano podem permitir. Feliz e
grato por poder me esforçar, mesmo que por vezes o esforço seja um grande
exercício de vontade, mas sem perder de vista o que de bom meus esforços investidos
vão trazer.
Seja lá o que for que estivermos
fazendo: que a experiência valha a pena.
Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli