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terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Essa mania de correr errado


Já fazia tempo que praticava corrida e me sentia bem. Fazia bastante esforço, abria mão de fazer outras coisas, treinava, deixava a preguiça de lado e corria. Todos os dias.
Tinha orgulho de estar correndo entre outros corredores notadamente mais experientes e bem melhor preparados do que eu. Apesar de meus resultados muito abaixo do que eu gostaria, eu estava lá, no meio, me esforçando.

Apesar de tudo, os resultados eram ruins. Normalmente, chegava do meio para o fim do total dos participantes nas corridas, apesar de todo o treino, dedicação, estudos, pesquisas e controle de alimentação.
Eu comecei a botar na cabeça que “bem, se meus resultados não são tão bons, tudo bem, pelo menos estou fazendo algo pela minha saúde, e isso é o mais importante. Preciso perseverar e continuar correndo.
Até que veio a primeira lesão, por excesso. E o que era para ser saudável se tornou um problema de saúde.
Então me recuperei como foi possível, e voltei a correr. Pois a saúde agradeceria.
Não agradeceu muito. Veio a segunda lesão. E bem pior.
Agora, eu não tinha nem bons resultados nas corridas e nem estava colaborando com minha saúde com o que eu estava fazendo. Vivi o famoso “murro em ponta de faca.” Continuar para quê?
Bem, eu me recuperei e continuei correndo. Mas já não mais tanto com as pernas. Hoje, corro com a cabeça e o coração.
***
Quantos de nós, que estamos lendo esse singelo texto, já se pegaram em suas vidas enaltecendo seus esforços e ignorando os resultados? Quantas vezes a vida vira um mero exercício de sobrevivência a cada novo dia, sem nos darmos conta que estamos tendo não mais do que migalhas de ganhos? Quanto tempo, força e energia desperdiçados para tão pouco retorno?
Quanta insistência em projetos sem perspectiva, em querer mudar pessoas, em nos apegarmos a crenças obsoletas, em suportar stress, em achar que estamos sempre certos, quando estamos, no fim das contas, dilapidando nossa própria existência.
***
Quanta corrida fiz que, no final das contas, foi mais um furacão que me levou de arrasto no desvario impensado dos dias, semanas, meses e anos sem reflexão e retomada de controle do que oportunidade de exercer minha própria vontade em fazer o que era melhor para mim.
Quanta corrida errada. Não quero mais.
Quero correr certo. Do jeito que dá certo. E vou aprender medindo meus resultados ao longo do tempo. Estudando. Observando. Ouvindo. Experimentando. Sentindo.
Meus esforços são só meus, e eles por si mesmos não me trazem nada. São os resultados que vêm de meus esforços e de minha experiência que devem valer a pena. Por algum motivo obscuro, nos orgulhamos de nossos sofrimentos, mesmo quando os resultados, sejam eles quais forem, não servem para quase nada.
***
Hoje, eu sigo correndo. Persistindo. Não se pode parar.  Só que agora, sigo sob a perspectiva dos resultados bons que minhas limitações de ser humano podem permitir. Feliz e grato por poder me esforçar, mesmo que por vezes o esforço seja um grande exercício de vontade, mas sem perder de vista o que de bom meus esforços investidos vão trazer.
Seja lá o que for que estivermos fazendo: que a experiência valha a pena.

Grato pela confiança,

Marcelo Pelissioli
 
 

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