O que eu mais poderia desejar ao leitor desse texto é que ele desenvolvesse as atitudes de um hacker.
Antes de mais nada, é preciso diferenciar um hacker de um cracker. Ambos são termos originários dos sistemas de informática, mas é o cracker aquele invade sistemas de forma ilícita, buscando lucrar ao máximo com o prejuízo alheio. Já o hacker é aquele que invade sistemas com o intuito de apontar falhas nesse sistema, de modo a expor onde a segurança ou acessibilidade daquele software deve ser melhorado exatamente para evitar erros ou a ação de crackers. Tanto isso é verdade que instituições ao redor do mundo têm promovido concursos com altas premiações para hackers que forem capazes de invadir seus sistemas e apontar falhas, abrindo a possibilidade de aperfeiçoamento do todo.
Só aquele que reconhece suas deficiências pode melhorar. Uma incompetência consciente pode tornar-se uma competência. Uma incompetência inconsciente será sempre ela mesma.
Querendo ou não, nós mesmos somos sistemas. Nosso todo é um sistema. Fazem parte desse sistema nosso corpo físico, nossos esquemas cognitivos, nossas emoções, comportamentos e atitudes. Esse nosso "eu sistema" interage o tempo todo com outros sistemas, como outras pessoas, trabalho, família e instituições. Nessas interações, nosso sistema vai utilizando seus próprios recursos para montar um verdadeiro banco de dados que determinará a sua "programação". A questão é: esse banco de dados de nosso software está nos levando para onde?
A tendência desse sistema é a acomodação. É viver o dia-a-dia com base no banco de dados pré-existente. A divergência é que essa acomodação ao longo do tempo pode deixar de ser "cômoda", e acabe mais nos distanciando dos nossos objetivos do que, de fato, nos aproximando deles.
Chega o momento de ser um hacker. De si mesmo.
Ter curiosidade para observar, experimentar e executar novas pequenas ações que podemos ter todos os dias com o intuito de encontrar novas possibilidades. Dessas ações, armazenar os novos aprendizados, lapidando os esquemas mentais de modo que se tornem mais potencializadores do que limitantes em nossas vidas. Testar um "padrão novo" com o cuidado de não "bugar" o sistema, de maneira firme e inteligente, para observar e colher resultados.
"Hackeie" seus processos como você já os conhece. O que pode aperfeiçoar a experiência de seu próprio sistema? Quais são outros modos de execução de tarefas? Hackeie relacionamentos, desenvolvendo mecanismos de aproximação e de distanciamento de acordo com a compatibilidade de seus sistemas, mantendo-se sempre aberto para aprender com todos. Hackeie sua comunicação, tornando sua escuta mais empática e sua fala mais assertiva. Hackeie suas emoções, não fingindo que elas não existem, mas ressignificando aquelas que te paralisam.
Ainda assim, nossos sistemas existem e co-existem no arcabouço da natureza probabilística da vida. O fluxo de acontecimentos, tal qual o alinhamento de diversos comandos de programação, muitas vezes invisíveis, desencadeia ocorrências independentes de nossas vontades. Não temos controle direto sobre acidentes, sobre nossos batimentos cardíacos, sobre nossa idade, sobre se vai ou não chover amanhã. O que podemos mesmo hackear é aquilo que está sobre o nosso controle: qual a melhor forma de agir, uma vez que o acidente já aconteceu, como tornar meus batimentos cardíacos mais saudáveis, como viver com a maior plenitude possível a minha idade e praticar uma fé emocionada que o tempo será aquele que eu espero amanhã.
Descubra as falhas e inseguranças de seu sistema, e trabalhe nelas como um hacker. Não será nenhuma instituição ao redor do mundo que o premiará. Será o seu próprio sistema aperfeiçoado que fará isso.
Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli
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