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sexta-feira, 29 de novembro de 2019

“Sim, senhora”


Se pudéssemos enxergar dentro de nossa psique as crenças que sustentam nosso ser, existe a chance de não acreditarmos sermos nós mesmos. Isso porque nosso conjunto de esquemas cognitivos e crenças é construído tal qual um iceberg. O grande bloco de sustentação da sua composição está submerso em nosso inconsciente. Apenas uma pequena parte pode ser acessada pela mente racional e consciente, sendo o trabalho de uma vida a busca pelo autoconhecimento que trará à tona aspectos de nosso ser que não temos a menor ideia que estão em nós. 

Funcionamos no jeito que funcionamos em função de nossas crenças. Agimos, vivemos, sofremos, nos emocionamos, nos alegramos, entramos em pânico, nos limitamos, nos potencializamos tudo em virtude de nossa construção de esquemas e crenças, construção essa que começa ainda na vida intrauterina e se desenrola fortemente na primeira infância. A cada dia, a cada mês, a cada ano, a tendência de cristalização de crenças, conscientes ou não, é mais forte, ou seja, vamos nos tornando cada vez mais prisioneiros delas, e menos capazes de mudarmos. 
 
É claro que não desejamos o mal a nós mesmos. Porém, enquanto seres com crenças que habitam em um inconsciente infinito, não conseguimos nos dar conta que, a nossas crenças, podemos responder apenas uma coisa: “sim, senhora”.  
 
Podemos dizer que nosso cérebro vem de fábrica com um padrão negativo. Isso é necessário para nossa sobrevivência. Assim que temos fome, quando bebês, choramos, pois sabemos instintivamente que ficar com fome  compromete nossa existência. O homem das cavernas que sobreviveu para contar a história foi aquele que melhor equilibrou a negatividade do medo com a necessidade de caçar um animal muito maior que ele. E essa negatividade persiste em nós, e precisa inclusive ser até certo ponto cultivada, caso contrário, corremos o risco de nos tornarmos inconsequentes em atitudes que tenham resultados bastante indesejados. 
 
Entre os inúmeros vieses cognitivos que nossas crenças produzem, destaca-se o viés de confirmação. Esse viés é um verdadeiro software tendencioso que corre em nós, pois é ele que nos faz procurar por evidências que confirmem as crenças que estão profundamente arraigadas em nós. Passamos pela vida tentando colecionar confirmações de crenças pré-existentes, tornando-nos cegos para evidências que contradizem nossas certezas. E seguimos pela vida repetindo para nossas crenças o mantra “sim, senhora”. 
 
O viés de confirmação faz com que lembremos de informações de forma seletiva, e acabemos esquecendo ou ignorando aquilo que a crença possa entender como antagonismo. Assim, acabamos produzindo julgamentos alicerçados em fatos que não temos muita certeza de onde vêm. Acabamos firmando posições mesmo quando racionalmente não temos muitos argumentos. Vivemos uma vida limitada pelo que a voz interna da crença nos prega, às vezes aos gritos. Respondemos apenas “sim, senhora”. 
 
Encarar a voz dessa senhora pode ser uma missão muito dolorosa. Uma verdadeira cirurgia mental capaz de identificar de que parte aquela voz vem. Descontruir crenças limitantes e reconstrui-las mais úteis é o único jeito de seguir uma perspectiva de que não estamos nos reprimindo em virtude de situações que ocorreram no passado. Encarar essa voz e agradecê-la pela preocupação de tanto tempo, afinal, essa senhora sempre quis apenas o nosso bem ao nos proteger. Só que na vida que se deseja viver agora, ou ela se adequa, ou não vai mais ser ouvida.
 
Para podermos nos libertar da velha senhora mandona, e dizer SIM à vida que almejamos, com segurança e felicidade.
 

Grato pela confiança

 

Marcelo Pelissioli
 

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

A inteligência não está só na cabeça


Pessoalmente, sempre vi o corpo humano como uma sistema  no qual o cérebro soberanamente envia ordens e informações ao restante dos órgãos e tecidos. Se fosse numa empresa, seria aquela dinâmica tradicional do “chefe manda, subordinado obedece”, mais modernamente chamada de top-down approach na Administração.
Mas não é assim que funciona. E descobri isso de duas formas: com a inteligência mental e consciente do cérebro, e com a inteligência corporal e inconsciente dos sentimentos.  Em outras palavras: na prática.
Aprendi que grande parte do movimento das informações que transitam entre os órgãos e o cérebro tem origem nos próprios órgãos, indo em direção ao cérebro, e não ao contrário. Ou seja, as informações “sobem”, e não necessariamente “descem”. Na Administração, chamaríamos essa abordagem de bottom-up. Dos órgãos, toda informação que sai é daquilo que é oriundo das emoções e sentimentos, através da química corporal.
Nosso corpo é formado por bilhões de neurônios, dos mais variados tipos e especificidades, os quais, por mais incrível que possa parecer, não estão apenas no cérebro, mas espalhados pelos órgãos, os quais, por essa razão, conseguem apresentar até mesmo tipos autônomos de inteligência. Exemplos são os intestinos, considerado por muitos médicos como um “segundo cérebro”, por seu funcionamento estar atrelado a condições gerais do organismo, pela grande quantidade de neurônios presentes no órgão, e até mesmo por ser o único órgão do corpo que pode funcionar de modo autônomo em suas tomadas de decisão, sem precisar que o cérebro o diga o que fazer. O próprio coração já vem sendo estudado em algumas de suas particularidades, aparentando algumas características como se agisse como um cérebro primitivo, por também funcionar de acordo com condições que vão além do físico, tendo inclusive, nuances de memórias próprias.
Fatores de desequilíbrio orgânico, entre eles o estresse, ansiedade, medo e depressão acionam um verdadeiro piloto automático em nossas vidas, algumas vezes a partir de fatores bem definidos, mas na maioria das vezes são questões cumulativas, pequenas, detalhes do dia-a-dia que não prestamos a devida atenção, detalhes esses que nosso organismo, para suportar, precisa gerar quantidades de neurotransmissores e hormônios para nos deixar em estado de prontidão. Nosso sistema nervoso tende a voltar do estado de prontidão constante ao estado natural de funcionamento depois que conscientemente entendemos que o perigo, real ou imaginário, passou, só que as toxinas deixadas em nosso organismo continuarão lá. Acumulando. Acumulando. Acumulando. Quando menos esperamos, sorrateiramente nosso organismo está empapado por grandes doses de toxinas, rastros de momentos de tensão que viram um verdadeiro veneno ao corpo. Com isso, nossos órgãos não conseguem se valer de suas inteligências normais e acabam reagindo de modos inesperados. O resultado disso são os problemas de saúde e doenças que se estabelecem, tudo porque deixamos abertas portas e janelas psicológicas que culminam na intoxicação e consequente disfunção da inteligência de nossos órgãos.
Enquanto em pessoas mais racionais, por uma questão de sobrevivência, a mente costuma disparar a emoção do medo do desconhecido, nas pessoas mais emocionais o coração se arrisca a tomar decisões incertas. É fácil perceber que nenhuma dessas características por si só é benéfica. É o equilíbrio entre esses dois pontos o que proporciona o melhor estado para tomarmos decisões. Os sentimentos “quentes” nos convidam a sentir o mundo. Nossa mente vai fazer o cálculo “frio” da situação.
Alcançar essa harmonia é um grande desafio. Diariamente, a inteligência de nosso corpo é testada, às vezes duramente. Às vezes, por longos períodos.  Nem sempre conseguiremos encarar esse desafio sem ajuda. Convém colaborarmos com nosso corpo – físico e emocional -  para que sua inteligência intrínseca possa ser utilizada na plenitude. É sábio não deixarmos para amanhã para olharmos para nós mesmos de forma integral, pois nosso corpo é nosso templo, e um templo não merece ser tomado de assalto pelo mal, mas sim, respeitado e mantido no mais alto grau de benevolência. 

Grato pela confiança,

Marcelo Pelissioli