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sexta-feira, 1 de novembro de 2019

A inteligência não está só na cabeça


Pessoalmente, sempre vi o corpo humano como uma sistema  no qual o cérebro soberanamente envia ordens e informações ao restante dos órgãos e tecidos. Se fosse numa empresa, seria aquela dinâmica tradicional do “chefe manda, subordinado obedece”, mais modernamente chamada de top-down approach na Administração.
Mas não é assim que funciona. E descobri isso de duas formas: com a inteligência mental e consciente do cérebro, e com a inteligência corporal e inconsciente dos sentimentos.  Em outras palavras: na prática.
Aprendi que grande parte do movimento das informações que transitam entre os órgãos e o cérebro tem origem nos próprios órgãos, indo em direção ao cérebro, e não ao contrário. Ou seja, as informações “sobem”, e não necessariamente “descem”. Na Administração, chamaríamos essa abordagem de bottom-up. Dos órgãos, toda informação que sai é daquilo que é oriundo das emoções e sentimentos, através da química corporal.
Nosso corpo é formado por bilhões de neurônios, dos mais variados tipos e especificidades, os quais, por mais incrível que possa parecer, não estão apenas no cérebro, mas espalhados pelos órgãos, os quais, por essa razão, conseguem apresentar até mesmo tipos autônomos de inteligência. Exemplos são os intestinos, considerado por muitos médicos como um “segundo cérebro”, por seu funcionamento estar atrelado a condições gerais do organismo, pela grande quantidade de neurônios presentes no órgão, e até mesmo por ser o único órgão do corpo que pode funcionar de modo autônomo em suas tomadas de decisão, sem precisar que o cérebro o diga o que fazer. O próprio coração já vem sendo estudado em algumas de suas particularidades, aparentando algumas características como se agisse como um cérebro primitivo, por também funcionar de acordo com condições que vão além do físico, tendo inclusive, nuances de memórias próprias.
Fatores de desequilíbrio orgânico, entre eles o estresse, ansiedade, medo e depressão acionam um verdadeiro piloto automático em nossas vidas, algumas vezes a partir de fatores bem definidos, mas na maioria das vezes são questões cumulativas, pequenas, detalhes do dia-a-dia que não prestamos a devida atenção, detalhes esses que nosso organismo, para suportar, precisa gerar quantidades de neurotransmissores e hormônios para nos deixar em estado de prontidão. Nosso sistema nervoso tende a voltar do estado de prontidão constante ao estado natural de funcionamento depois que conscientemente entendemos que o perigo, real ou imaginário, passou, só que as toxinas deixadas em nosso organismo continuarão lá. Acumulando. Acumulando. Acumulando. Quando menos esperamos, sorrateiramente nosso organismo está empapado por grandes doses de toxinas, rastros de momentos de tensão que viram um verdadeiro veneno ao corpo. Com isso, nossos órgãos não conseguem se valer de suas inteligências normais e acabam reagindo de modos inesperados. O resultado disso são os problemas de saúde e doenças que se estabelecem, tudo porque deixamos abertas portas e janelas psicológicas que culminam na intoxicação e consequente disfunção da inteligência de nossos órgãos.
Enquanto em pessoas mais racionais, por uma questão de sobrevivência, a mente costuma disparar a emoção do medo do desconhecido, nas pessoas mais emocionais o coração se arrisca a tomar decisões incertas. É fácil perceber que nenhuma dessas características por si só é benéfica. É o equilíbrio entre esses dois pontos o que proporciona o melhor estado para tomarmos decisões. Os sentimentos “quentes” nos convidam a sentir o mundo. Nossa mente vai fazer o cálculo “frio” da situação.
Alcançar essa harmonia é um grande desafio. Diariamente, a inteligência de nosso corpo é testada, às vezes duramente. Às vezes, por longos períodos.  Nem sempre conseguiremos encarar esse desafio sem ajuda. Convém colaborarmos com nosso corpo – físico e emocional -  para que sua inteligência intrínseca possa ser utilizada na plenitude. É sábio não deixarmos para amanhã para olharmos para nós mesmos de forma integral, pois nosso corpo é nosso templo, e um templo não merece ser tomado de assalto pelo mal, mas sim, respeitado e mantido no mais alto grau de benevolência. 

Grato pela confiança,

Marcelo Pelissioli

 
 
 

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