Se pudéssemos
enxergar dentro de nossa psique as crenças que sustentam nosso ser, existe a
chance de não acreditarmos sermos nós mesmos. Isso porque nosso conjunto de
esquemas cognitivos e crenças é construído tal qual um iceberg. O grande bloco
de sustentação da sua composição está submerso em nosso inconsciente. Apenas
uma pequena parte pode ser acessada pela mente racional e consciente, sendo o trabalho
de uma vida a busca pelo autoconhecimento que trará à tona aspectos de nosso
ser que não temos a menor ideia que estão em nós.
Funcionamos
no jeito que funcionamos em função de nossas crenças. Agimos, vivemos,
sofremos, nos emocionamos, nos alegramos, entramos em pânico, nos limitamos,
nos potencializamos tudo em virtude de nossa construção de esquemas e crenças,
construção essa que começa ainda na vida intrauterina e se desenrola fortemente
na primeira infância. A cada dia, a cada mês, a cada ano, a tendência de
cristalização de crenças, conscientes ou não, é mais forte, ou seja, vamos nos
tornando cada vez mais prisioneiros delas, e menos capazes de mudarmos.
É claro que
não desejamos o mal a nós mesmos. Porém, enquanto seres com crenças que habitam
em um inconsciente infinito, não conseguimos nos dar conta que, a nossas
crenças, podemos responder apenas uma coisa: “sim, senhora”.
Podemos dizer
que nosso cérebro vem de fábrica com um padrão negativo. Isso é necessário para
nossa sobrevivência. Assim que temos fome, quando bebês, choramos, pois sabemos
instintivamente que ficar com fome
compromete nossa existência. O homem das cavernas que sobreviveu para
contar a história foi aquele que melhor equilibrou a negatividade do medo com a
necessidade de caçar um animal muito maior que ele. E essa negatividade
persiste em nós, e precisa inclusive ser até certo ponto cultivada, caso
contrário, corremos o risco de nos tornarmos inconsequentes em atitudes que
tenham resultados bastante indesejados.
Entre os
inúmeros vieses cognitivos que nossas crenças produzem, destaca-se o viés de confirmação.
Esse viés é um verdadeiro software tendencioso que corre em nós, pois é ele que
nos faz procurar por evidências que confirmem as crenças que estão
profundamente arraigadas em nós. Passamos pela vida tentando colecionar
confirmações de crenças pré-existentes, tornando-nos cegos para evidências que
contradizem nossas certezas. E seguimos pela vida repetindo para nossas crenças o
mantra “sim, senhora”.
O viés de
confirmação faz com que lembremos de informações de forma seletiva, e acabemos
esquecendo ou ignorando aquilo que a crença possa entender como antagonismo.
Assim, acabamos produzindo julgamentos alicerçados em fatos que não temos muita
certeza de onde vêm. Acabamos firmando posições mesmo quando racionalmente não
temos muitos argumentos. Vivemos uma vida limitada pelo que a voz interna da
crença nos prega, às vezes aos gritos. Respondemos apenas “sim, senhora”.
Encarar a voz
dessa senhora pode ser uma missão muito dolorosa. Uma verdadeira cirurgia
mental capaz de identificar de que parte aquela voz vem. Descontruir crenças limitantes e
reconstrui-las mais úteis é o único jeito de seguir uma perspectiva de que não estamos nos
reprimindo em virtude de situações que ocorreram no passado. Encarar essa voz e
agradecê-la pela preocupação de tanto tempo, afinal, essa senhora sempre quis
apenas o nosso bem ao nos proteger. Só que na vida que se deseja viver agora,
ou ela se adequa, ou não vai mais ser ouvida.
Para podermos
nos libertar da velha senhora mandona, e dizer SIM à vida que almejamos, com segurança e felicidade.
Grato pela confiança
Marcelo
Pelissioli
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