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terça-feira, 2 de junho de 2020

Sonhos durante a pandemia


“Estou nesse avião novamente, ansioso para a decolagem e para as longas horas que ficarei aqui sentado e tenso, até chegar à França. Alguns passageiros vêm se encaminhando para seus assentos, colocando seus pertences no bagageiro, outros já estão sentados. De repente, o movimento dentro do avião cessa, e a aeronave lentamente começa a se movimentar. Nesse momento, uma chuva torrencial cai, e o avião muda sua rota de decolagem. Pela janela, vejo que ele está à beira de um altíssimo morro de terra vermelha, e entendo que ele precisa descer esse morro para conseguir ganhar impulso para a decolagem. Sinto o corpo todo enrijecido pela tensão, perguntando-me se, naquele temporal, conseguiremos mesmo chegar à França”.

Este foi o sonho que tive na madrugada de 02 de junho de 2020. É a terceira vez nos últimos dias que sonho com aviões e França. A maior curiosidade aqui não é o sonho recorrente, mas é eu pessoalmente lembrar de meus sonhos, coisa que dificilmente consigo.

A ciência já comprova que os sonhos são um dos mecanismos usados pelo cérebro para a regulação emocional e formação de memórias de longo prazo, valendo-se em grande parte de metáforas de cunho inconsciente e pessoal. Assim, duas pessoas que sonham com a mesma coisa podem ter razões distintas para tal.

Sabendo disso, saio à pesquisa de alguma relação entre o momento da pandemia e a alteração da capacidade de recordação e recorrência de sonhos, e descubro que sim, há estudos sobre o que vem sendo chamado de pandemic dreams, ou sonhos da pandemia.  A mudança de rotinas, de locais frequentados, a incerteza dos eventos futuros e o stress causado por todo isso têm elevado em 35% a ocorrência de sonhos repetidos e rememorados por pessoas que não costumam lembrar de seus sonhos. Saliente-se que esse é um mecanismo natural do corpo e de nossa psique, que indica que mais pessoas têm tido sonhos mais vívidos, detalhados e marcantes, além de terem acordado mais vezes durante seus sonhos, o que colabora com a sua manutenção na memória.

Como o vírus é obviamente invisível, cada pessoa tem dado a ele uma significação em seus sonhos, que está longe de poder ser interpretada por livros popularescos. O que fica como a maior interpretação desses sonhos é a demonstração de como andam nossas emoções em nossos porões psicológicos e, com essa análise e entendimento, criar planos de ação para a manutenção de nossa saúde física, com a atenção e proteção que o momento exige, e também de nossa saúde mental, na medida em que ambas são pilares de nossa qualidade de vida e propulsores para nossos objetivos.

Assim, nossos sonhos podem ser boas demonstrações de nosso momento atual, e nos dar pistas de como seguir adiante, equalizando a velocidade, profundidade e o impacto de nossas ações.

O Coaching preconiza o movimento embasado nas condições que cada pessoa tem de se movimentar, ampliando sua perspectiva à medida que o caminho possa ser construído. Que bom que me surgiu esse estudo para entender melhor esse meu momento e de meus sonhos. Pesquisa, aliás, realizada pelo Centro de Pesquisas de Neurociência de Lyon.

Lyon, na França.

Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli



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