O diprotodonte só queria seguir
fazendo suas coisas de diprotodonte. Se possível, talvez encontrar algum campo
mais farto de grama e folhas para lhe saciar por mais tempo e, quem sabe,
amanhã nem precisar se preocupar com o que comer. Só queria seguir carregando
suas três toneladas com seus movimentos lentos e tranquilos, seu andar
elegante, e ter seus filhotes que, tal qual cangurus modernos, se
desenvolveriam nas suas bolsas marsupiais. O diprotodonte só queria seguir
fazendo o que já vinha fazendo pelos últimos 1 milhão e quinhentos mil anos.
Essa vontade fleumática do
diprotodonte de seguir fazendo tudo igual as suas coisas de diprotodonte acabou
o limitando a não perceber as sutis mudanças que seu ambiente começara a sofrer
nos últimos tempos. Alterações climáticas que foram com os séculos tornando o
ambiente do diprotodonte mais carente. Menor oferta de variedade de alimentos e
esconderijos foram o primeiro sinal. Aliado a isso, os primeiros seres humanos
que chegaram ao continente australiano, há 65 mil anos, trouxeram consigo a
caça e as queimadas, fatores que levaram à extinção não apenas do diprotodonte,
mas mais de 90% das espécies da fauna local conhecida que na época pesavam mais de
50kg.
Pode ter levado milênios até que
o último diprotodonte tenha colocado os olhos em um ser humano. Porém, esses
milênios não foram suficientes para que o diprotodonte conseguisse avaliar o
novo quadro em que estava inserido. Ele não se adaptou para se tornar mais
rápido. Ele não se tornou mais esquivo. Ele não se tornou mais agressivo. Ele
não buscou outras formas de alimentação. Ele apenas caminhou para seu próprio
fim, insistindo em, todos os dias, seguir teimosamente fazendo suas coisas de
diprotodonte.
O pobre animal que hoje é apenas
uma imagem reconstruída dos antepassados de uma subclasse de marsupiais que
inclui os coalas, só é conhecido por alguns fósseis ainda hoje encontrados pela
Austrália. Sua condição enquanto espécie infelizmente não o permitiu evoluir em
discernimento para fazer a leitura das novas situações que estava vivenciando,
nem planejar novos comportamentos ou ações.
Quando o ambiente é estático,
fazer as mesmas coisas tende a render os mesmos resultados. Se desejamos
resultados diferentes, são necessárias atitudes diferentes. Mas como apostar
que um ambiente será eternamente estático, se a mudança está sempre se impondo
ao longo da história?
Diferentemente, como seres
humanos, somos dotados de uma inteligência tal que nos permite analisar o
cenário que cada um de nós está vivendo, de adaptar estratégias para a
continuidade de nossos projetos, de avaliar as perdas e ganhos de nossas ações,
de planejar e realizar projetos percebendo qual é o horizonte, vivendo menos no
campo da expectativa e avançando mais no entendimento de quais são as
perspectivas que se anunciam.
Assim como o diprotodonte só
queria fazer suas coisas de diprotodonte, o ser humano também anseia em fazer
suas coisas de ser humano. Cabe a nós perceber quais são as mudanças de cenário
que vêm ocorrendo, adaptar e revisitar planos, avaliar quais projetos ainda
fazem sentido, estudar formas de maximizar o potencial de nossas realizações e
de seguir na construção de nossos legados desejados, aqueles que farão com que
nossa existência esteja realmente valendo a pena a partir de nosso próprio
ponto de vista.
Ser capaz de interpretar as
condições impostas pelo entorno e sua perspectiva sobre cada um de nós nos
permite decidir entre avançar, recuar, acelerar, desacelerar, manter, alterar,
agir, mudar ou manter comportamentos, a fim de que as metas a serem alcançadas
e, consequentemente, muitos de nossos sonhos, não acabem tendo o mesmo fim de
nosso querido diprotodonte.
Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli
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