“Os seus problemas/você deve esquecer!/Isso é viver/é aprender!/ Hakuna Matata!”
Aí está o trecho de uma
musiquinha que quem foi criança ou adolescente nos anos 90 tem gravada na mente
e no coração. Do filme “O Rei Leão” (Disney, 1994), o termo “Hakuna Matata” vem
da língua africana Suaíli e expressa um estilo de comportamento perante os
problemas. Significa literalmente “não há preocupações”.
De fato, viver a filosofia Hakuna
Matata é viver no tempo presente, tirando dos dias o melhor possível, deixando
o futuro se encarregar de si mesmo. É exatamente como vivem os personagens
Timão e Pumba, respectivamente, um suricato e um javali, em suas clareiras
distantes e abundantes em alimentos e esconderijos da África. Vivem essa
filosofia tão bem que são capazes de ensiná-la ao jovem Simba, o leão que,
amedrontado, procura fugir de seu passado. Em um primeiro momento, Hakuna
Matata devolve a Simba o gosto pela vida.
O leão passa a desfilar pela
floresta com outros animais de pequeno porte, agindo como eles e começando,
inclusive, a se alimentar de larvas, em um modelo típico e perigoso de “diga-me
com quem andas e te direi quem és”. Ao reencontrar a leoa Nala, sua antiga amiga
(e futura rainha), Simba conta sobre sua nova forma de viver longe das preocupações,
ao que é duramente repreendido por estar se distanciando de suas origens e de
seu real potencial de leão. Confuso, Simba tem a oportunidade de revisitar a si
mesmo no encontro com o mandril Rafiki, que consegue despertar em Simba o
significado do que é ser um leão, sua identidade e sua responsabilidade em deixar de remoer o passado e assumir atitudes concretas que exorcisem os fantasmas que há
anos o atormentam (trabalho digno de um Coach).
Assim, Simba volta à sua terra
para reivindicar o que é seu por direito: o posto de rei.
Timão e Pumba fizeram o melhor que
podiam pelo futuro Rei Leão. Sem dúvida, o salvaram em seu momento de maior
necessidade. Quando encontraram o felino já sem forças para viver, o Hakuna Matata foi decisivo para Simba voltar a ter brilho nos
olhos. Porém, esse brilho dos olhos era o brilho dos olhos das presas, dos
animais que só vivem o agora apenas porque não tem outra opção: podem virar
comida dos predadores amanhã, semana que vem, ou daqui a alguns segundos. Simba precisou voltar a viver o presente
porque estava preso ao seu passado. O Hakuna Matata, porém, estava começando a
prendê-lo ao seu presente de forma igualmente limitadora. Foi seu despertar
para o futuro que lhe cabia que o fez reaver o brilho dos olhos dos grandes
animais, daqueles destinados a ocupar lugar de destaque e respeito em seu
ecossistema, e que se mantêm firmes diante daquilo que almejam conquistar.
A semelhança entre Hakuna Matata,
uma faca e a água é que todas elas são de grande valia para nossas vidas,
mas que podem também nos matar quando mal utilizadas. Haverá momentos em que
precisaremos encontrar meios de nos afastarmos de nossos problemas para
conseguirmos respirar, para termos mais clareza, para olharmos de cima. O agora
tem um grande poder curativo, único para que ocorra a reconexão com nosso
próprio eixo, de modo que possamos nos afastar da depressão de se viver acorrentado
ao passado e a ansiedade de se viver aceleradamente no futuro. Jesus ensinou a
olhar para as aves do céu, que não guardam alimento, e nem por isso morrem de
fome. Santo Agostinho escreveu que o presente se torna pretérito a cada instante, existindo apenas um presente contínuo. Assim, as aves, vivendo essa grande conexão com o presente, igualmente vivem o hoje e constroem seus ninhos de forma segura e no tempo certo, prevendo possibilitar as condições necessárias para o evento
futuro de perpetuação de sua espécie. Assim, viver o agora não precisa significa
viver sem olhar para a construção do futuro, até porque seu futuro está sendo construído no agora, seja realizando algo, ou não realizando nada.
Nem todos nós nascemos leões. Mas
todos nós podemos ter atitudes dignas da realeza dos leões em relação àquilo
que almejamos, nessa selva que nos impele a vivermos e agirmos como simples
presas. Que nossa conexão com o presente seja forte e centrada o suficiente para
nos impelir não a permanecer presos nele, mas para avançarmos no presente contínuo com firmeza em direção
àquilo que nós, seres inteligentes e capazes, pudermos, com sabedoria, alcançar.
Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli
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