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segunda-feira, 26 de julho de 2021

O pássaro pousado


Vejo um pássaro pousado no galho de uma árvore. Ele está ali, parado, sem dar pistas se continuará pousado ou se impulsionará suas pequenas pernas para a reflexa abertura de asas que permitirá um novo alçar de voo. Eu não consigo fazer a leitura da comunicação corporal do pássaro, tampouco consigo identificar sua energia, para entender o porquê de ele estar ali, pousado.

E por que eu deveria me preocupar? Por uma razão óbvia: os pássaros não foram feitos para ficarem pousados, eles foram feitos para voar!

Ocorre-me que poderia estar doente, necessitando diminuir consideravelmente suas movimentações aladas para que possa ir se recuperando, em sua natureza de passarinho. Pode ser que tenha parado por ter encontrado alimento no galho daquela árvore, de modo que, a qualquer momento, estará saciado e sairá voando em uma direção que apenas ele mesmo sabe porque seguiu, até virar um ponto que se invisibiliza no horizonte. Pode, também, estar cansado das longas viagens realizadas, sabe-se lá se não é uma espécie migratória, e está retomando forças antes de seguir sua jornada. Existe ainda uma última possibilidade: a de ter parado apenas para olhar ao redor, para aproveitar a paisagem, considerando, quem sabe, a segurança daquela árvore e daqueles arredores para estabelecer seu ninho. 

Quem poderá afirmar com certeza? Mais do que isso: quem terá o direito de forçar o voo daquele pequeno ser pousado na árvore, se não temos nenhuma ideia do que se passa em seu coração de passarinho? Percebo que o que posso mesmo fazer é apenas contemplar aquela imagem: um pássaro pousado.

Haverá momentos que seremos nós esse pássaro. Pelos mais diversos motivos, muitos os quais apenas nossos corações conhecerão, cessaremos nossos voos para, por desânimo, cansaço ou necessidade, retomarmos forças. Assim como o pássaro, que não deixa de ser pássaro porque pousou, também nós precisamos entender os momentos em que a vida nos impele a uma fase de retomada de forças.

Um passarinho pousado em uma árvore me ensinou que até mesmo uma parada pode ser um avanço, ainda que em outra direção.


Grato pela confiança,

Marcelo Pelissioli



segunda-feira, 12 de julho de 2021

Hard e soft skills

Frases famosas no campo da administração como “as pessoas são contratadas pelas suas competências técnicas, mas são demitidas por seus comportamentos”, atribuída a Peter Drucker, ou “contrate caráter, treine habilidades” do então CEO da Porsche, Peter Schutz, nos abrem os olhos para a relevância tanto do aprofundamento no conhecimento técnico profissional quanto para o constante desenvolvimento das habilidades interpessoais.

“Hard skills” e “soft skills” entraram no linguajar corporativo para evidenciar a diferença entre as competências práticas e as comportamentais. Enquanto as hard skills se referem a tudo aquilo que se sabe tecnicamente exercer, como conhecimento do uso de ferramentas, linguagens e processos, além de toda a formação acadêmica, as soft skills dão conta dos aspectos interpessoais e subjetivos de cada indivíduo de modo que possibilitem a melhor performance das hard skills, o que inclui habilidades como eficiência comunicativa, empatia, organização e otimização de espaço e tempo, flexibilidade, resiliência, relacionamento interpessoal, liderança, ética e inteligência emocional.

Por muito tempo, valorizou-se muito mais a natureza técnica dos profissionais sem se considerar adequadamente suas relações com o trabalho como um todo, incluindo colegas, chefes e clientes.  As hard skills que constavam no currículo já bastavam para as instituições decidirem pela contratação, sob o alto risco de prematuros rompimentos de contratos em virtude de deficiências comportamentais que foram negligenciadas tanto pela empresa quanto pelo próprio profissional, ocasionando ainda mais prejuízos a ambos. 

Pode se dizer que o processo que tem trazido destaque às soft skills é histórico. Uma vez que o entendimento humano de vida em sociedade vai mudando com o tempo, e comportamentos mais humanistas estão cada vez mais na ordem do dia, determinadas posturas, outrora despercebidas no mundo profissional, passaram a ser determinantes para a conquista ou a perda definitiva de um cliente, em que se pese a competividade cada vez maior nos diferentes mercados. Dessa forma, já não basta um "braço" que realize o trabalho: ele depende, também, de um "cérebro" apto para entender seu contexto, e de um "coração" para se relacionar e administrar o comportamento de outras pessoas e de situações de pressão.

Atualizar-se e aprofundar-se nas minúcias técnicas do trabalho é base para o desenvolvimento de carreira e manutenção de empregos. Todavia, aspectos interpessoais vêm ganhando igual importância nos cenários profissionais, lembrando-nos que, em toda e qualquer atividade, estaremos trabalhando com pessoas, para pessoas, em toda a sua integridade.

 

Grato pela confiança,

Marcelo Pelissioli