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sexta-feira, 29 de novembro de 2019

“Sim, senhora”


Se pudéssemos enxergar dentro de nossa psique as crenças que sustentam nosso ser, existe a chance de não acreditarmos sermos nós mesmos. Isso porque nosso conjunto de esquemas cognitivos e crenças é construído tal qual um iceberg. O grande bloco de sustentação da sua composição está submerso em nosso inconsciente. Apenas uma pequena parte pode ser acessada pela mente racional e consciente, sendo o trabalho de uma vida a busca pelo autoconhecimento que trará à tona aspectos de nosso ser que não temos a menor ideia que estão em nós. 

Funcionamos no jeito que funcionamos em função de nossas crenças. Agimos, vivemos, sofremos, nos emocionamos, nos alegramos, entramos em pânico, nos limitamos, nos potencializamos tudo em virtude de nossa construção de esquemas e crenças, construção essa que começa ainda na vida intrauterina e se desenrola fortemente na primeira infância. A cada dia, a cada mês, a cada ano, a tendência de cristalização de crenças, conscientes ou não, é mais forte, ou seja, vamos nos tornando cada vez mais prisioneiros delas, e menos capazes de mudarmos. 
 
É claro que não desejamos o mal a nós mesmos. Porém, enquanto seres com crenças que habitam em um inconsciente infinito, não conseguimos nos dar conta que, a nossas crenças, podemos responder apenas uma coisa: “sim, senhora”.  
 
Podemos dizer que nosso cérebro vem de fábrica com um padrão negativo. Isso é necessário para nossa sobrevivência. Assim que temos fome, quando bebês, choramos, pois sabemos instintivamente que ficar com fome  compromete nossa existência. O homem das cavernas que sobreviveu para contar a história foi aquele que melhor equilibrou a negatividade do medo com a necessidade de caçar um animal muito maior que ele. E essa negatividade persiste em nós, e precisa inclusive ser até certo ponto cultivada, caso contrário, corremos o risco de nos tornarmos inconsequentes em atitudes que tenham resultados bastante indesejados. 
 
Entre os inúmeros vieses cognitivos que nossas crenças produzem, destaca-se o viés de confirmação. Esse viés é um verdadeiro software tendencioso que corre em nós, pois é ele que nos faz procurar por evidências que confirmem as crenças que estão profundamente arraigadas em nós. Passamos pela vida tentando colecionar confirmações de crenças pré-existentes, tornando-nos cegos para evidências que contradizem nossas certezas. E seguimos pela vida repetindo para nossas crenças o mantra “sim, senhora”. 
 
O viés de confirmação faz com que lembremos de informações de forma seletiva, e acabemos esquecendo ou ignorando aquilo que a crença possa entender como antagonismo. Assim, acabamos produzindo julgamentos alicerçados em fatos que não temos muita certeza de onde vêm. Acabamos firmando posições mesmo quando racionalmente não temos muitos argumentos. Vivemos uma vida limitada pelo que a voz interna da crença nos prega, às vezes aos gritos. Respondemos apenas “sim, senhora”. 
 
Encarar a voz dessa senhora pode ser uma missão muito dolorosa. Uma verdadeira cirurgia mental capaz de identificar de que parte aquela voz vem. Descontruir crenças limitantes e reconstrui-las mais úteis é o único jeito de seguir uma perspectiva de que não estamos nos reprimindo em virtude de situações que ocorreram no passado. Encarar essa voz e agradecê-la pela preocupação de tanto tempo, afinal, essa senhora sempre quis apenas o nosso bem ao nos proteger. Só que na vida que se deseja viver agora, ou ela se adequa, ou não vai mais ser ouvida.
 
Para podermos nos libertar da velha senhora mandona, e dizer SIM à vida que almejamos, com segurança e felicidade.
 

Grato pela confiança

 

Marcelo Pelissioli
 

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

A inteligência não está só na cabeça


Pessoalmente, sempre vi o corpo humano como uma sistema  no qual o cérebro soberanamente envia ordens e informações ao restante dos órgãos e tecidos. Se fosse numa empresa, seria aquela dinâmica tradicional do “chefe manda, subordinado obedece”, mais modernamente chamada de top-down approach na Administração.
Mas não é assim que funciona. E descobri isso de duas formas: com a inteligência mental e consciente do cérebro, e com a inteligência corporal e inconsciente dos sentimentos.  Em outras palavras: na prática.
Aprendi que grande parte do movimento das informações que transitam entre os órgãos e o cérebro tem origem nos próprios órgãos, indo em direção ao cérebro, e não ao contrário. Ou seja, as informações “sobem”, e não necessariamente “descem”. Na Administração, chamaríamos essa abordagem de bottom-up. Dos órgãos, toda informação que sai é daquilo que é oriundo das emoções e sentimentos, através da química corporal.
Nosso corpo é formado por bilhões de neurônios, dos mais variados tipos e especificidades, os quais, por mais incrível que possa parecer, não estão apenas no cérebro, mas espalhados pelos órgãos, os quais, por essa razão, conseguem apresentar até mesmo tipos autônomos de inteligência. Exemplos são os intestinos, considerado por muitos médicos como um “segundo cérebro”, por seu funcionamento estar atrelado a condições gerais do organismo, pela grande quantidade de neurônios presentes no órgão, e até mesmo por ser o único órgão do corpo que pode funcionar de modo autônomo em suas tomadas de decisão, sem precisar que o cérebro o diga o que fazer. O próprio coração já vem sendo estudado em algumas de suas particularidades, aparentando algumas características como se agisse como um cérebro primitivo, por também funcionar de acordo com condições que vão além do físico, tendo inclusive, nuances de memórias próprias.
Fatores de desequilíbrio orgânico, entre eles o estresse, ansiedade, medo e depressão acionam um verdadeiro piloto automático em nossas vidas, algumas vezes a partir de fatores bem definidos, mas na maioria das vezes são questões cumulativas, pequenas, detalhes do dia-a-dia que não prestamos a devida atenção, detalhes esses que nosso organismo, para suportar, precisa gerar quantidades de neurotransmissores e hormônios para nos deixar em estado de prontidão. Nosso sistema nervoso tende a voltar do estado de prontidão constante ao estado natural de funcionamento depois que conscientemente entendemos que o perigo, real ou imaginário, passou, só que as toxinas deixadas em nosso organismo continuarão lá. Acumulando. Acumulando. Acumulando. Quando menos esperamos, sorrateiramente nosso organismo está empapado por grandes doses de toxinas, rastros de momentos de tensão que viram um verdadeiro veneno ao corpo. Com isso, nossos órgãos não conseguem se valer de suas inteligências normais e acabam reagindo de modos inesperados. O resultado disso são os problemas de saúde e doenças que se estabelecem, tudo porque deixamos abertas portas e janelas psicológicas que culminam na intoxicação e consequente disfunção da inteligência de nossos órgãos.
Enquanto em pessoas mais racionais, por uma questão de sobrevivência, a mente costuma disparar a emoção do medo do desconhecido, nas pessoas mais emocionais o coração se arrisca a tomar decisões incertas. É fácil perceber que nenhuma dessas características por si só é benéfica. É o equilíbrio entre esses dois pontos o que proporciona o melhor estado para tomarmos decisões. Os sentimentos “quentes” nos convidam a sentir o mundo. Nossa mente vai fazer o cálculo “frio” da situação.
Alcançar essa harmonia é um grande desafio. Diariamente, a inteligência de nosso corpo é testada, às vezes duramente. Às vezes, por longos períodos.  Nem sempre conseguiremos encarar esse desafio sem ajuda. Convém colaborarmos com nosso corpo – físico e emocional -  para que sua inteligência intrínseca possa ser utilizada na plenitude. É sábio não deixarmos para amanhã para olharmos para nós mesmos de forma integral, pois nosso corpo é nosso templo, e um templo não merece ser tomado de assalto pelo mal, mas sim, respeitado e mantido no mais alto grau de benevolência. 

Grato pela confiança,

Marcelo Pelissioli

 
 
 

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Pontos C.H.A.V.E.

No meio administrativo que estuda o comportamento organizacional, cada vez mais se torna comum a expressão “Gestão por Competências”, referindo-se à identificação de perfis profissionais que sejam capazes de se entranhar da forma mais natural possível ao ambiente corporativo, gerando, assim, o melhor retorno sobre o investimento da contratação de alguém. Para essa gestão, o acrônimo C.H.A., criado por David McClelland, vem, ao longo dos anos, sendo bastante utilizado, significando Conhecimentos, Habilidades e Atitudes.
A necessidade do funcionamento orgânico de um profissional em uma empresa de forma mais rápida fez com que esse acrônimo evoluísse de C.H.A. para C.H.A.V.E., o qual, atende agora por Conhecimentos, Habilidades, Atitudes, Valores e Entorno.
Vamos brevemente descrevê-los:
C, de Conhecimentos:  é o saber intelectual, é aquilo que foi adquirido através do estudo.  Aqui se inclui todo o conhecimento acadêmico, os cursos, os livros lidos e as palestras assistidas;
H, de Habilidades: é o saber fazer, a experiência prática, fatores que a exposição e a lida proporcionaram ao profissional. Refere-se às tentativas e erros, e o aprendizado proveniente disso.  É nosso conhecimento aplicado, como o uso de ferramentas, idiomas, inteligência emocional, entre outras.
A, de Atitudes: é o comportamento propriamente dito, o “querer fazer” e o modo com que o profissional se relaciona com seus conhecimentos e habilidades e seu entorno. É a disposição de fazer acontecer, de tomar decisões, de ser protagonista, de avançar ou recuar;
Ao C.H.A., atualmente se somam:
V, de Valores: são os “porquês”, os propósitos e as crenças do profissional. Do alinhamento pessoal desse item com os valores da empresa pode emergir uma comunhão benéfica e duradoura. Por outro lado, o descompasso nesse item fragilizará a relação a tal ponto que haja rompimento assim que uma das partes não mais conseguir tolerar indiferença ou agressão ao que lhe é fundamental;
E, de Entorno: é o ambiente, o espaço físico e psicológico, as condições necessárias de tempo e espaço que propiciam, mesmo que temporariamente, a melhor performance possível. Refere-se a entender o momento e as circunstâncias em que se está inserido.
Para as organizações, uma contratação não baseada em competências pode acarretar em um alto custo de tempo e dinheiro. Para o profissional, não ser capaz de entender sua C.H.A.V.E. e poder mensurar seus pontos fortes e de melhoria pode, igualmente, significar frustração de expectativas e instabilidade na perspectiva de carreira e na vida almejada.
Muitos alicerces de conceitos como liderança, gestão de pessoas, empregabilidade e recursos humanos vêm sendo rapidamente desconstruídos e remontados. Cabe a cada um de nós conhecermo-nos cada vez mais para acompanhar as novas tendências naquilo que se espera de um profissional de excelência e, igualmente, do que um profissional de excelência espera de uma organização.

 

Grato pela confiança,

Marcelo Pelissioli
 
 

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Profecias autorrealizáveis


“Viu?” “Eu disse!” “Eu sabia!”
Entre os diversos fenômenos que ocorrem a partir de nossa interpretação da realidade, destaco nesse texto as chamadas “profecias autorrealizáveis”, termo cunhado pelo sociologista norte-americano Robert King Merton, há quase um século. O termo é instigante por si só, e podemos estar sofrendo suas consequências em nossas vidas nesse exato momento. Consequências, essas, vindas de ações praticadas por nós mesmos.
Antes de mais nada, convém lembrar que aquilo que chamamos de “realidade” nada mais é do que apenas a nossa interpretação do que vivenciamos a partir de nossos sentidos. Essa vivência é filtrada por nossos esquemas cognitivos ou crenças, as quais nos devolvem um breve relatório daquilo que estamos vivendo. Assim, nossa interpretação mais ou menos distorcida da realidade nunca poderá ser 100% objetiva, uma vez que, invariavelmente, passará por filtros que podem nem ser conscientes. E, de acordo com a teoria das profecias autorrealizáveis, são exatamente as interpretações de uma situação que desencadeiam ações, as quais, na sequência, geram consequências.
Experiências dessas práticas no campo educacional são bastante conhecidas. Professores que trabalharam  com novas turmas as quais foram orientados que eram formadas por alunos brilhantes alcançaram médias de notas bastante superiores a turmas as quais os professores foram informados serem de alunos medianos. Na realidade, os alunos das duas turmas tinham capacidades e background  similares. A leitura da situação alicerçada em uma crença (consciente ou não) determina condições para que atitudes que se encaixem naquele contexto sejam tomadas, de modo que a internalização de rótulos negativos ou positivos seja, desde o início, um guia para o destino de nossas viagens pela vida.
Da mesma forma que nossas crenças embasam nossas atitudes, nossas expectativas mudam nossos comportamentos. Por exemplo, quando tenho a expectativa de que vou trabalhar com alguém “antipático”, meu comportamento pode  tender a ser defensivo e superficial. Assim, a outra pessoa faz a sua própria leitura de que somos nós os antipáticos da história, girando o círculo vicioso que leva as nossas profecias a se tornarem realidade.
Quando tenho para mim, e principalmente quando assumi publicamente, que não sou bom suficiente para determinado emprego, condição financeira, relacionamento, o que seja, a tendência mais forte é que meus comportamentos e atitudes, por mais incrível que isso possa parecer,  corroborem para exatamente em não conseguir alcançar as coisas que dizemos desejar. Não  procuro olhar com mais cuidado para minha carreira, ignoro minha relação de prioridades financeiras, não me permito oportunidades, e acabo agindo exatamente da forma como não gostaria, desde que esteja adequado àquilo que acredito.
As profecias autorrealizáveis, assim, se realizam não necessariamente baseadas em atração ou pensamento positivo ou negativo. Muito antes, elas se realizam porque, infelizmente, fazemos de tudo para que elas aconteçam.
No que é chegada a hora de mudar o “eu sabia” para “eu vou fazer diferente”?

Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli


quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Um chasque de qualidade



Apesar de vivermos uma era onde a comunicação e a informação são onipresentes, isso não quer dizer que nossa qualidade como chasques consiga acompanhar essa velocidade em termos de qualidade, sem que nos empenhemos em seu aprimoramento.
As maiores dificuldades dos chasques se encontram em não delimitarem o campo ao que é observável, deliberando imaginariamente diversas realidades paralelas que originam mais apreensão do que soluções. Outro ponto de importância na qualidade do chasque é não se dar conta das necessidades envolvidas na situação, suas e do outro, o que funciona como uma espécie de sublinhado naquilo que se deseja expressar. Um terceiro ponto é a expressão dos sentimentos. Um chasque bem instruído traz em sua mensagem as motivações emocionais implícitas no que reporta, uma vez que são elas que movem primariamente. Por fim, o chasque em si apresenta algo na forma de um pedido, o que pode acabar sendo entendido de verdade como um pedido baseado em observação, necessidade e sentimento, ou acabar soando como uma exigência. Nesse último caso, nosso interlocutor só tem duas opções: ou submeter-se, ou rebelar-se.
Essas ideias, que provêm do modelo de comunicação conhecido como Comunicação Não-Violenta, são a matriz para novos paradigmas em nossos contatos intra e interpessoais, de modo que a comunicação em si seja gerada por chasques mais assertivos, objetivos e positivamente persuasivos. Não se trata de ser apenas bem educado: trata-se de possibilitar ao chasque o seu melhor resultado, e ajudar com que ele chegue ao coração e à mente de quem ele precisa alcançar, gerando maior conexão e menos resistência.
Somos levados a repetir padrões comunicativos ao longo da vida, e dificilmente paramos para nos perguntar se esses padrões estão realmente sendo efetivos ou não, até o momento em que pensamos em nossos resultados como chasques. Qual tem sido o grau de sucesso em nossas abordagens comunicativas?
E antes de encerrar, caso eu porventura não tenha observado que algum interlocutor não estivesse me acompanhando, “chasque” é uma palavra utilizada nos círculos nativistas do Rio Grande do Sul, que significa “mensageiro”.  Posso também não ter percebido a necessidade do meu leitor em saber disso desde o começo, nem seus sentimentos em relação a isso durante a leitura dessa mensagem. Também, não lhe pedi que soubesse o significado de antemão.  Se for assim, comprometo-me, da próxima vez, a melhorar minhas habilidades como chasque!
 
Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli
 
 

segunda-feira, 1 de julho de 2019

O filho de Dédalo


Não bastassem os apuros vividos por Dédalo para conseguir a liberdade do labirinto que ele mesmo havia criado, a mitologia grega nos oferece a continuação de sua história.
Eis que Dédalo e seu filho, Ícaro, encontram abrigo e amizade em um reino onde são tratados com distinção. Vivem bem, até que Dédalo acaba por repetir antigos erros e acaba preso em uma ilha, juntamente com seu filho. Não encontrando saída, dessa vez, Dédalo e Ícaro criam um plano de fuga que consiste em encontrar cera e penas de aves para criarem asas, as quais possam os fazer voar para fora da ilha. Após algum tempo, e com as asas criadas, Dédalo adverte Ícaro que, ao voarem , não deverão voar tão baixo que possam molhar as penas das asas no mar, nem tão alto que o calor do sol possa derreter a cera.
O plano deu certo. Conseguiram, pai e filho, alçar voo. Ícaro, porém, deslumbrado com o poder de suas asas, voou alto demais, o que acabou por derreter de fato a cera das asas, causando sua queda e morte. A Dédalo, não restou nada mais a não ser lamentar pelo resto da vida.
***
Repetir erros passados não quer dizer necessariamente que somos ruins ou incapazes. Talvez, não seja nem verdade que repetimos erros, propriamente. O que fazemos mesmo é repetirmos padrões. Mesmo sabendo que nossos resultados serão desastrosos, uma força estranha nos impossibilita de fazermos diferente, e vamos repetindo velhos comportamentos ao longo da vida. Mesmo sendo nítidos os maus resultados provenientes desses comportamentos, insistimos em não querer agir diferente, ou pelo menos darmos uma chance ao novo.
De tais padrões obsoletos, já sabemos de antemão que precisaremos de força extra para elaborarmos nossas “fugas”, criarmos nossas “asas” para superar tais momentos. E assim vamos seguindo, pela vida. Quando, depois do planejamento, estamos a ponto de superar as adversidades e executar o plano, ou acabamos “voando tão baixo” que nosso voo acaba sendo impedido, ou nos deslumbramos com a paisagem sem considerar os riscos propriamente.  Seguimos contornando problemas, ao invés de resolvê-los. E a perspectiva é que problemas não encarados exijam nossa atenção até que, ou eles acabem conosco, ou nós os resolvamos.
***
A figura icônica de Ícaro, nessa estória, não apenas representa o encantamento de ser capaz de alçar altos voos precipitadamente, mas também representa o futuro de Dédalo, em uma metáfora do filho sendo a vida futura do pai. Dédalo, que em sua vida teve diversas boas oportunidades e reconhecimento, colocando tudo a perder mais de uma vez, acaba vendo o filho (futuro) morrendo mesmo tendo sendo orientado sobre a melhor forma de voar.
No final das contas, qual a utilidade das melhores orientações, quando a prática não condiz com o que aprendemos?
***
Caro leitor, que nossos erros do passado sejam professores de duras lições, as quais, quanto mais rápido aprendermos, mais instrumentalizados para a vida seremos. Que sejamos capazes de reconhecer nossos padrões financeiros, profissionais, sentimentais, e pessoais que vão se repetindo, e sermos capazes de entender se eles nos potencializam ou nos limitam. Que no nosso futuro próximo, nossos voos sejam sustentáveis, nem tão altos nem tão baixos: apenas o suficiente para que alcancemos nossa liberdade.

 

Grato pela confiança,

Marcelo Pelissioli
 
 

sexta-feira, 31 de maio de 2019

O labirinto do Minotauro


Conta a mitologia grega sobre Dédalo, um grande engenheiro e inventor que, certa feita, foi requisitado pelo Rei Minos para construir um imenso labirinto que pudesse aprisionar um ser metade homem, metade touro, o Minotauro. Esse ser, por sua aparência medonha, foi menosprezado por toda a sua vida, tornando-se um monstro enfurecido que se alimentava de carne humana.
Aceitando a empreitada, Dédalo iniciou o trabalho da construção do labirinto utilizando todo o seu conhecimento. Eis que, de repente, seu trabalho tornou-se tão perfeito que ele mesmo se viu aprisionado dentro do próprio labirinto que construíra, junto com o Minotauro que vagava pelos corredores de idas e vindas do local. Dédalo, a muito custo, alcançou a saída, não sem antes ter tido que encarar o medo de não conseguir encontrar sua liberdade e ser devorado.
***
Quantas vezes em nossas vidas acabamos como Dédalo? Quantos “labirintos” em nossa mente e em nosso espírito nós mesmos criamos para isolar nossos monstros, e no fim, acabamos por estarmos presos junto deles, sem conseguir encontrar uma saída? Quantos desses monstros devoradores de gente que nos cercam são como o Minotauro, resultado de acúmulo de medos, desprezos e negações desde nossa mais tenra infância?
Quantos de nós já desistiram, e vivem apenas se esgueirando nesses obscuros corredores da mente, apenas torcendo para que o Minotauro não os encontre? Quantos outros decidiram de corpo e alma encarar o desafio e encontrar a saída? Para esses, fica a pergunta: quais são os nossos recursos disponíveis, ou que podem ser desenvolvidos, para encarar a saída desse labirinto?
A busca de Dédalo pela sua liberdade de algo que ele mesmo criou é metáfora viva das coisas que nós também criamos e acabamos aprisionados. Valer-se de todo o seu conhecimento e autoconhecimento, de sua engenhosidade e de seus dons foi o que salvou Dédalo. Resta-nos elevar nossa visão e perceber em que pontos de nossa vida estamos em emaranhados aparentemente insolúveis, nos quais cada vez nos embrenhamos na escuridão mais e mais. Quais padrões de comportamento vamos repetindo e repetindo obtendo resultados pífios. Quais modelos de pensamento que nos causam apenas dor, em nome de uma pretensa segurança.
Não há quem não viva em seus labirintos. Não há quem não conviva com seus Minotauros. Há, porém, os que procuram olhar ao redor e interpretar o aqui e agora além de seus próprios mapas mentais, e a todo amanhecer não apenas torcem para encontrar saídas, mas vão se nutrindo física, mental e espiritualmente para complementar a empreitada que chegará com a luz do portão de saída.

Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli


terça-feira, 7 de maio de 2019

Inteligência para resiliência

Termo que vem primordialmente da física, e que conceitua o quanto de energia ou pressão um material consegue suportar sem se romper e voltar ao seu estado anterior, “resiliência” tem sido também, nos últimos anos, um termo utilizado para designar o quanto de reveses e intempéries uma pessoa é capaz de suportar física, mental, espiritual e emocionalmente. É uma palavra que está no vocabulário atual, a ponto de algumas pessoas reconhecerem-se como “resilientes”.

Que a vida vai nos apresentar contextos desafiadores é fato. Que seremos personagens de contextos indesejados também. Assim, “ser resiliente” parece ser uma habilidade vantajosa de ser desenvolvida.

Mas como?

Só se conhece a resiliência de um material quando ele é testado na pressão. Será que para conhecermos nossa resiliência pessoal também precisamos de uma forte dose de sofrimento? E se não “passarmos no teste”, e nos despedaçarmos, nos mais diversos sentidos?

Suportar o sofrimento estoicamente até pode ter um quê de admirável, de romântico, do arquétipo de guerreiro. No fundo, se esse sofrimento não gerar aprendizado potencializador, acabará sendo perdida uma grande chance de evolução. Pensemos que, antes de associarmos resiliência pessoal à capacidade de aguentar o sofrimento por si só, a associemos à inteligência de encontrar as melhores estratégias para conviver e superar o contexto indesejado em que nos encontramos. Inteligência, aqui, trazida como uma capacidade de se resolver problemas com uma visão de futuro.

Encontrar caminhos, desenvolver táticas, aprimorar flexibilidade, fazer uso de nossas faculdades cognitivas e comunicativas, autoconhecer-se, agir ou não agir, todas essas são formas estratégicas de sermos resilientes em momentos de sofrimento. Pensemos que, de qualquer forma, a pressão continuará sendo exercida sobre nós, teremos que ser “fortes” de qualquer jeito, a diferença é que essa resiliência estratégica nos proporciona muito mais potencial para suplantarmos esses momentos e, finalmente, voltarmos a nossa forma inicial. Lembremos que essa é uma grande vantagem que temos sobre a borracha, o concreto, ou outro material sujeito a um teste de resiliência: a esses, só lhes resta suportar. A nós, é dado o dom da inteligência.


O sofrimento ou nos humaniza, ou nos embrutece. São nossas estratégias de resiliência que definirão o resultado.



Grato pela confiança,
Marcelo Pelissiloli
 
 
 

sábado, 6 de abril de 2019

“Eu tenho que” ou “eu escolho”?


O que define a maturidade de uma pessoa, em termos psicológicos? Acredito que não seja a idade, nem as experiências, e nem ao menos a capacidade prática de se lidar com a própria realidade a partir do seu ângulo de visão, mas sim, entendo que a maturidade é atingida quando assumimos 100% a responsabilidade sobre nossas vidas.

Assumir essa responsabilidade é questão de exercício, e cada pessoa levará o seu próprio tempo para chegar ao estágio máximo dessa consciência. Muitos entre nós, inclusive, não conseguirão chegar a essa conclusão em seu tempo de vida.

Lembremos que existem ocorrências que temos controle direto, realidades que podemos criar, outras que podemos alcançar um controle indireto, e outras que absolutamente não teremos controle nenhum. Mesmo assim, a ilusão de que podemos exercer controle sobre tudo, ao contrário de parecer libertadora, é uma verdadeira prisão de grades feitas de ansiedade e angústia. Em outras palavras, os contextos os quais seremos personagens nem sempre serão de nossa preferência.

Nesses momentos, somos levados a “ter que” agir como se fôssemos escravos de nós mesmos. “Preciso acordar muito cedo porque tenho que trabalhar”. “Preciso trabalhar porque tenho que pagar minhas contas”.  “Tenho que me esforçar mais do que os outros porque meus pais não me deram estudo”.  “Tenho que parecer feliz para que as pessoas gostem de mim.” “Tenho que fazer dieta porque não me sinto bem com meu corpo”.

É muito provável que o contexto em que você está não esteja sobre seu controle, mesmo. É muito provável que esteja fora do seu controle ter um emprego estável sem ter que acordar cedo. Que o trabalho formal seja, de imediato, uma forma mais segura de pagar as contas. Que sua infância tenha sido bem mais carente do que a de outras pessoas do seu círculo social. Que, com tudo isso, a atenção ao seu corpo físico tenha ficado em segundo plano.

São exemplos de contextos que não temos muito controle. Você não é necessariamente responsável por esses contextos.

Então, o que você “tem que fazer”?

NADA. Absolutamente, você não “tem que” fazer NADA!

O segredo está naquilo que você ESCOLHE fazer nesses contextos. Como escolhe se comportar, e como escolhe agir. “Eu escolho acordar cedo para trabalhar, de livre e espontânea vontade, pois escolho ter mais liberdade e tranquilidade para pagar minhas contas”. “Eu escolho me aprimorar nos meu tempo disponível porque isso é parte do caminho para meus sonhos”. Eu escolho manter os melhores níveis de relacionamento com as pessoas, para meu próprio bem-estar”. “Eu escolho ter carinho com meu corpo físico, pois ele é o templo onde residem todas as minhas aspirações e potencialidades”.

No fundo, tudo o que fazemos, pensamos e sentimos são nossas escolhas.  Ser consciente de que somos 100% responsáveis por elas é primordial para deixar de enganar a si mesmo e seguir evoluindo.

Encerro com os ensinamentos de Sun Tzu, que no clássico “A Arte da Guerra” nos ensina: “A água escolhe o seu percurso de acordo com o terreno que atravessa. O guerreiro busca a vitória de acordo com o inimigo que enfrenta”.

Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli



quarta-feira, 13 de março de 2019

A Curva S dos nossos projetos


Imaginemos o início de um projeto qualquer: um novo emprego, um novo relacionamento, a aquisição de um grande bem, qualquer coisa. Saibam que, a todo momento, esse projeto pode ser graficamente  apresentado a partir da chamada Curva S.












A base do S é o início do projeto. Ele costuma ter desenvolvimento lento, na mesma proporção em que nosso aprendizado vai se construindo ao longo do tempo. A evolução que começará a apontar o desenho do S para cima terá início a partir do momento em que sistematizações começarem a funcionar, de modo que o aprendizado começa a ser mais prático, intuitivo e rápido. Essa linha em ascensão, inevitavelmente, chegará a um platô de evolução onde não mais apontará para cima, mas sim, cada vez mais para a direita. É o momento em que já há muito se superou a fase do aprendizado, que já não há mais para onde subir ou melhorar, e já podemos nos considerar  vivenciadores avançados naquele contexto.

Quando nos encontramos na ponta extrema superior do S, existem três possibilidades:


1)      Plantar-se nesse contexto sem criar novas perspectivas. O famoso “em time que está ganhando, não se mexe”. Mas, pensando bem, temos controle sobre a forma que os times que até então estavam perdendo para nós vão jogar amanhã? Deixando tudo como está, estamos sendo responsáveis pela manutenção do sucesso de nossos projetos, ou apenas contando com a sorte?

2)      Ver o topo, o fim do S como um precipício sem fim. Sentir no coração uma ponta de frustração ao perceber que se chegou ao topo, e que não há mais para onde subir. À beira da escuridão de um precipício o qual escalamos com força e vontade genuínas, alguns de nós podem ficar contemplando o vazio indefinidamente. Outros podem, em um momento de desespero, se atirar no nada. E outros podem aproveitar o momento para ir ao próximo nível de seus projetos, sonhos e objetivos.

3)      Iniciar uma nova curva S! Elevar os padrões! “Subir a régua”!  Quando nos sentimos em um platô de evolução, nada nos impede de o utilizarmos como uma base para um salto que nos levará ao ponto inicial de um novo S em nossa vida, passando novamente pelos estágios de lento aprendizado, evolução e manutenção do status quo.



A mudança que tanto esperamos não precisa necessariamente ser de emprego, de pessoas, de recursos financeiros ou de possibilidades. A mudança mais importante de todas é quando percebemos que paramos de evoluir, e decidimos retomar nossa evolução elevando nossos padrões começando de novo de um patamar mais alto, de forma consciente e responsável.


E assim, indefinidamente podemos seguir nos elevando ao longo da vida. O aprendizado de hoje é o elemento essencial para o avanço de amanhã. Vamos empilhando Ss ao longo do tempo. E que cada um deles seja o guardião de uma história inspiradora a quem nos perguntar como anda nossa vida.

Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli

domingo, 10 de fevereiro de 2019

O retorno de (todos) seus investimentos


Existe uma métrica financeira utilizada no meio corporativo, mais conhecida pelo acrônimo ROI. O Return On Investment (retorno sobre o investimento) é calculado a partir da receita da empresa, subtraindo os custos e, por fim, dividindo esse resultado pelos mesmos custos. Com isso, obtêm-se o índice ROI.

Esse índice transforma em um número toda uma cadeia de acontecimentos dentro dos processos de uma empresa. Apesar de parecer uma supersimplificação de uma série de fatores, termos a consciência de qual retorno estamos tendo de nossos investimentos, sejam eles financeiros ou não, vai totalmente ao encontro da célebre frase de Willian Edwards Deming, uma referência mundial da Administração moderna:  “o que não pode ser medido, não pode ser gerenciado”.

Medir e gerenciar seus investimentos. Naturalmente, a primeira ideia que nos vem são investimentos financeiros, nossa vida financeira. E essa é uma boa dimensão para iniciarmos nossa reflexão sobre qual o ROI estamos obtendo na vida financeira. Qual retorno estamos tendo na relação entre o que ganhamos e o que gastamos? Vamos bem mais a fundo: qual tem sido o ROI de nossa vida financeira em termos de felicidade, plenitude e autorrealização?

Lembremos que durante todo o tempo de nossa vida estaremos investindo. Não é apenas dinheiro. Investimos nosso tempo em alguma atividade (ou inatividade), investimos nossos sentimentos, investimos nossa atenção, investimos nossa energia, investimos nossa saúde física, mental, espiritual. Enfim, o tempo todo estamos investindo nosso bem mais precioso. NOSSA VIDA!
E qual tem sido o retorno desse riquíssimo investimento?

Qual tem sido o ROI em nossa saúde física? Estamos satisfeitos com seus resultados? Os investimentos estão sendo bem realizados? Qual retorno estamos tendo em nossos relacionamentos? Estamos investindo o suficiente e o essencial para que eles rendam bons frutos? Qual tem sido o retorno obtido dos lugares que frequentamos, das coisas que lemos, que assistimos, que nos envolvemos?

Temos tido ganhos nos nossos investimentos emocionais? Estamos tirando proveito daquilo onde estamos focando nossa atenção? Estão esses investimentos correndo o risco de trazer ganhos rápidos hoje com grandes perdas amanhã?

De todas essas reflexões, você com você mesmo, construa seu  ROI de investimentos pessoais. Qual é o seu “perfil de investidor”? Em qual dimensão da vida terás melhores resultados trabalhando de modo mais conservador? Onde precisa ser mais moderado? Onde precisas ser mais arrojado para desfrutar melhor seus investimentos?

Obter um retorno desejável daquilo em que investimos é questão de sustentabilidade, em todas as dimensões da vida. Se alguma dessas dimensões não se sustentar, todas as outras correm perigo de “falir”. E a falência financeira é apenas uma das falências que nossa vida pode ter que enfrentar.
Que nossa vida traga os melhores rendimentos a partir daquilo em que investimos.

Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli



domingo, 13 de janeiro de 2019

O elo mais fraco


Quando focamos em nossas metas e objetivos, normalmente somos guiados e impelidos por nossos valores, nossos pontos fortes, nossas “fortalezas”, como a Psicologia Positiva os chama. Porém, o que determinará até aonde poderemos chegar, são nossos pontos fracos.

          Ter uma percepção apurada de nossos pontos frágeis e limitações, seja no campo cognitivo, físico, emocional ou financeiro, ao contrário do que possa parecer, é parte integrante de um processo mais amplo de autoconhecimento.  Isso porque uma limitação, ao torna-se consciente, possibilita sua própria evolução para outro status, deixando de ser um ponto cego em nosso ser e tornando-se um reconhecido elemento a desenvolver. Até o momento em que nossos pontos fracos estão sorrateiramente escondidos nos recônditos sombrios de nosso inconsciente, podemos  dizer que são “incompetências inconscientes”, ou seja, temos fraquezas que nem sequer sabemos, e com isso, caso a vida nos demande competência em algo que não está bem trabalhado em nós mesmos, é provável que nossos resultados não sejam os melhores. Apenas quando trazemos nossas incompetências à luz da consciência é que podemos trabalhá-las e desenvolvê-las para que de incompetências, tornem-se competências conscientes.

          Perceba-se que reconhecer as próprias limitações em nada está associado com o comportamento de se cultuá-las, ao ponto de se vangloriar das próprias fraquezas como se fossem uma força. Repetir ao longo da vida que não somos bons em algo, que não temos determinada habilidade, que emocionalmente somos instáveis, entre outras, apenas demonstra o primeiro passo, que somos incompetentes conscientes. Focar dessa forma engessada em nossas fraquezas dificulta reconhecer nossas próprias forças. O quanto que permanecer conscientemente incompetente em algum aspecto te desconecta de seus propósitos de vida?

                A força de uma corrente, ao contrário do que pode parecer, está em seu elo mais fraco. É esse elo, quando estiver a ponto de se romper, que determinará qual o poder de toda a corrente. Identificar onde esse elo está, e desenvolver recursos para fortalecê-lo, vai fazer com que a corrente como um todo se torne mais forte, sendo capaz de cumprir sua função de corrente com muito mais eficiência.


Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli