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domingo, 16 de dezembro de 2018

Um ano novo sustentável

Quem já se permitiu passar por um processo de Coaching, ou quem em breve passará, já conheceu ou vai conhecer uma das ferramentas clássicas desse processo transformador: a Roda da Vida. Nela, cada um de nós consegue enxergar sua vida de uma forma inédita, única, de modo gráfico. Com essa ferramenta, identificamos quais dimensões de nossa vida estão firmemente se sustentando, quais estão sustentando outras, e quais absolutamente estão em um momento insustentável.

"Sustentabilidade" é uma palavra que vem entrando em nosso vocabulário de forma cada vez mais intensa. Antes de um modismo, precisamos perceber que apenas o que é sustentável de fato persiste ao longo dos anos. E com a Roda da Vida, torna-se vertiginosamente claro quais são os pontos sustentáveis ou não de nosso momento existencial, e com qual intensidade convivemos com cada um desses pontos. 

Se podemos considerar nossa vida financeira sustentável, ao preço de que nossa saúde emocional não esteja, qual poderá ser o resultado disso? Se minha saúde física vive abalada por doenças de origem emocional, o que poderemos esperar colher em alguns anos? Se sustento meu lazer e diversão à base da insustentabilidade de minha vida financeira, qual é a minha perspectiva? Se meu relacionamento com colegas de trabalho e vizinhos é excelente, mas minha relação com meu cônjuge é insustentável, o que posso esperar de minha vida?

Somos seres orgânicos, não apenas nas relações entre nossos órgãos e suas funções vitais, mas também nas diferentes áreas de nossa vida. Imaginemos uma pessoa que tem um excelente par de rins, um coração bastante saudável, um cérebro que nunca dá "dores de cabeça", contudo, tem seus pulmões comprometidos e acaba vindo a óbito com isso. Lá se foi, junto com a insustentabilidade dos pulmões, toda a sustentabilidade do coração, rins e cérebro. Assim somos também em nossas dimensões da vida. Esteja uma dimensão aquém de conseguir sustentar-se e todo o conjunto dessa bela obra chamada VIDA estará comprometido, seja em qualidade, seja em existência.

Costumamos ouvir seguidamente que nascemos para sermos felizes, e isso é fato. A questão é que não podemos perder de vista que essa felicidade precisa necessariamente ser sustentável e não momentânea, a fim de não comprometer o girar contínuo e seguro da Roda de nossa Vida.

Que o novo ano que vem se anunciando nos inspire à sustentabilidade e integração em todas as áreas de nossa vida e que, cada um de nós no seu tempo, faça do equilíbrio o ponto de partida para as ações que nos trarão a felicidade. Não a momentânea, mas a construída para durar o maior tempo possível.

Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli


quinta-feira, 8 de novembro de 2018

D.R.

A famosa D.R. (discussão de relacionamento) está virando sinônimo de chateação, de momento negativo, de que as coisas não vão bem na relação entre pessoas, seja no âmbito conjugal, familiar ou até mesmo profissional. Tanto isso é presente que a própria palavra feedback já parece encaminhar para uma conversa onde coisas que não queremos ouvir virão à tona, de modo que conotamos negativamente.

Quantas vezes evitamos as D.R.s e preferimos calar, empurrando para a frente ou varrendo para debaixo do tapete de nosso inconsciente pequenas mágoas, ressentimentos aparentemente inofensivos, desconfortos psíquicos, acumulando vagarosa e imperceptivelmente um verdadeiro monte de lixo tóxico, tudo isso em nome do bem estar da relação. Porém, podemos demorar para perceber que o bem estar da relação depende do bem estar de todas as suas partes. Com isso, se chega ao resultado contrário: ao invés de proteger a relação, a expomos à negligência em não lhe darmos a manutenção necessária, os pequenos ajustes que todas as coisas de tempos em tempos precisam, o alinhamento que sintoniza projetos de vida com uma visão de futuro, o reconhecimento de expectativas em relação às perspectivas.

Nesse contexto, será que uma D.R. é realmente tão amedrontadora assim?

E se for exatamente uma cultura de D.R. que esteja fazendo falta em sua relação?

Em âmbito profissional, o mesmo acontece. Quando surge o termo feedback, a tendência atual é que serão levantados assuntos onde não estamos indo bem. Mesmo que assim fosse, porque não exercemos a escuta ativa e procuramos receber o que a outra parte nos traz como material de reflexão, antes de sermos reativos e construirmos muros em nossa comunicação?

Se pararmos para pensar, absolutamente tudo em nossa vida é feedback. A forma que agimos, que pensamos, que sentimos, tudo isso nos dá constante retorno. Cabe a cada um de nós observar quais estão sendo esses retornos, se eles estão sendo os esperados, ou se estão nos distanciando da vida que almejamos. Taxar feedbacks como "positivos" ou "negativos", nesse contexto, não parece fazer muito sentido: ou temos o feedback de seguir como estamos, ou aprendemos uma forma que precisamos mudar.

Tudo é uma questão de transparência e equilíbrio. Uma máquina que precisa de manutenção todo dia pode estar prestes a pifar de vez. Uma máquina que nunca recebe manutenção pode estar na mesma situação. Relacionamentos que precisam de D.R.s constantes, ou que nunca precisam, podem estar vulneráveis.

Em qualquer conjuntura, harmonizar as relações evita o que de pior pode acontecer, que é uma ou todas as partes dedicarem apenas indiferença uns aos outros. Conhecemos nossas necessidades, anseios, medos e expectativas. Antes de imaginar quais são as do outro, cabe, de tempos em tempos, de modo tranquilo, reconhecer e ter clareza e transparência sobre as necessidades do outro, também.

Discutir é debater, não é brigar. Relacionamento é conviver com o outro, não é tentar vencê-lo. "Diálogo" é uma palavra que tem em sua raiz o "di" de duplo, de duas pessoas participando. Uma relação sadia entre pessoas só pode ser uma em que todos os envolvidos ganham juntos. 

Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli


quarta-feira, 24 de outubro de 2018

A vida é sobre andar de bicicleta

Você lembra quando ganhou sua primeira bicicleta? Lembra da expectativa, do tempo que precisou esperar, da incerteza se ganharia ou não?

Caso tenha tido esse momento em sua infância, procure lembrar-se dele. Da ocasião, da sua emoção, das pessoas que estavam ao redor, das cores, dos cheiros, dos sons... reviva esse momento!

Depois, você criou coragem para subir na bicicleta. Provavelmente, ela tinha rodinhas, e você só conseguia ir para a frente, e a balançava de um lado para o outro confiando nas rodinhas! Aos poucos, foi atrevendo-se a fazer curvas, foi percebendo o quanto o guidom precisava e podia ser movimentado para não cair e fazer a curva perfeitamente. Foi desenvolvendo equilíbrio suficiente para não encostar mais as rodinhas no chão, desafiando-se a ir o mais longe possível sem ouvir o som delas girando. 

Então, chega o dia que você vê sua bicicleta sem rodinhas.

Você já é capaz de andar sem rodinhas, mas a simples lembrança que não as tem causa desequilíbrio e assim, vem um tombo. Levanta, afinal, sempre te disseram que cair de uma bicicleta é parte do aprendizado, para logo cair de novo. E de novo. As cicatrizes, arranhões e ferimentos vão se tornando parte de sua rotina, até um momento que esse aprendizado está deixando de ser divertido. Joelhos, cotovelos, canelas, costas, seu corpo está cheio de escalavrões. 

Aí também você percebe que, mesmo com muitas feridas pelo corpo, elas têm o seu tempo, e vão cicatrizando. E você percebe que cada vez mais seu equilíbrio torna-se melhor, assim como suas pedaladas vão ficando mais firmes. Cada vez mais equilíbrio, e mais atitude.

Chego à conclusão que a vida é sobre andar de bicicleta. É viver a emoção dos nossos melhores momentos como se fôssemos aquela criança que ganhou sua primeira bicicleta. É ser humilde o suficiente para aceitarmos as rodinhas, sabendo que elas serão apenas amigas temporárias em nossa evolução. É ousar, fazer curvas e manobras as quais não estamos muito certos do desfecho, mas sempre aprender com essa ousadia. É inevitavelmente cair, e ao cair, não pensar muito, montar de novo e sair pedalando antes que o medo que nosso ego nos oferecerá tome conta de nós. É entender que andar de bicicleta requer equilíbrio, assim como fazemos ao identificar e gerenciar nossas emoções, e também atitude, pois sem atitudes, não evoluímos na vida, nem geramos pedaladas para nos mantermos em pé.

Essa criança corajosa que um dia você foi está aí dentro, ainda. Pode até não ter sido de bicicleta, mas se você levantou de todos os tombos que você tomou até hoje da vida, agradeça àquela criança. Ela nunca desistiu de você.

Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli




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quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Admiráveis comportamentos novos

"Pane no sistema, alguém me desconfigurou/Aonde estão meus olhos de robô?/Eu não sabia, eu não tinha percebido/Eu sempre achei que era vivo/Parafuso e fluido em lugar de articulação/Até achava que aqui batia um coração/Nada é orgânico, é tudo programado/E eu achando que tinha me libertado/
Mas lá vêm eles novamente, eu sei o que vão fazer/Reinstalar o sistema"

Assim é a letra da música "Admirável Chip Novo", da cantora Pitty. O robô acha que é um ser vivo, mas na verdade, ele é apenas manipulado por um sistema programado. E assim como ele, nós também.

O resultado final dessa manipulação se apresenta em forma de atitudes e comportamentos. O que fazemos, como reagimos, como lidamos com as situações do dia-a-dia, como nos relacionamos, tudo isso está relacionado a significados que vamos dando ao mundo ao longo a vida. E isso inclui os comportamentos dos quais costumamos nos arrepender, que nos sabotam e que nos limitam.

"Pense, fale, compre, beba/Leia, vote, não se esqueça/Use, seja, ouça, diga/Tenha, more, gaste, viva"

Dentro dos estudos da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), nossas atitudes e comportamentos provêm de emoções, que são geradas por pensamentos, os quais são oriundos de nossos esquemas cognitivos ou crenças, como mais comumente se chamam. Como Coach alinhado à adaptação da TCC aos casos não-clínicos, o Coaching Cognitivo-Comportamental presencia essa realidade diariamente. Os comportamentos que temos tendem a vir de pensamentos automáticos, impregnados de emoção, e seguramente amparados na visão de mundo mais perfeita que cada um de nós conseguiu montar. E essa visão de mundo é como um verdadeiro iceberg, o qual só racionalizamos uma pequena parte. É a maior parte, submersa, obscura e desconhecida quem te manipula na maior parte do tempo.

Mudar comportamentos a partir dos próprios comportamentos é a mesma coisa que podar os galhos mais superficiais e as folhas de uma árvore. Enquanto a raiz estiver lá, os velhos padrões de comportamento voltarão. Isso porque a programação de uma árvore é funcionar assim. E de nossos comportamentos também.

Na letra da Pitty, a primeira mudança  que o robô teve de verdade foi perceber que ele não era um ser vivo, adquirindo a consciência de que ele era mesmo um robô. Confesso que no meu próprio processo de Coaching essa descoberta foi muito dolorosa. Descobrir que somos manipulados por crenças que nos impulsionam a comportamentos maléficos e limitantes pode ser chocante. Nossa primeira reação é a de resistir. Assim, aquilo de comportamento que está nos prejudicando precisa ser trabalhado a partir dos esquemas cognitivos, despertar para quais os pensamentos e quais emoções amparam esses esquemas para, por fim, chegar a fazer diferente.

Ou nos damos conta de nossos comportamentos e atitudes limitantes de uma vez, ou ficamos à mercê dessa manipulação, a qual somos vulneráveis enquanto não entendermos nosso próprio funcionamento.

"Mas lá vem eles novamente, eu sei o que vão fazer/Reinstalar o sistema".

Os sistemas estão no ar, nos nossos significados da infância, na rua, nas redes sociais, na TV, na família, no casamento. Ou você os escolhe, ou eles serão instalados sem sua permissão. Ou você programa suas atitudes para que se alinhem à felicidade, equilíbrio e plenitude, ou o mundo se encarregará de fazer isso de qualquer jeito. E aí, seus comportamentos, que aparentemente são unicamente seus, estarão, na verdade, fora de seu controle.



Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli


segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Debaixo do seu nariz

Temos pontos cegos em nosso corpo. Um deles é exatamente a dificuldade de enxergar o que está debaixo do nosso nariz.  

Só há duas formas de sabermos o que está debaixo do nosso nariz: ou nos olhamos no espelho, ou perguntamos a alguém de confiança. Em ambos os casos, precisaremos do outro, seja ele outra pessoa, seja nosso "outro" refletido no espelho.

Encarar a própria imagem no espelho é uma tarefa desafiadora. Essa imagem pode revelar detalhes de nossa feição que preferiríamos evitar. Olheiras de preocupações. Linhas de expressão que o tempo vai inexoravelmente talhando. Cicatrizes contadoras de histórias. Traços considerados por nós como imperfeitos. Tudo isso é percebido, dimensionado e convertido em informação, mesmo quando só o que estávamos procurando era o que estava debaixo de nosso nariz.

Jean-Paul Satre, um dos filósofos ícones do existencialismo, cunhou a frase "o inferno são os outros". Sim, pois uma das interpretações dessa frase é fazer com que justamente nosso olhar para o espelho, antes que busquemos o que está debaixo do nosso nariz, passe por uma comparação com os outros. Vêm à consciência nossas fraquezas e forças. Erros e acertos. Possibilidades e necessidades. Vêm à luz o que sentimos como ameaça e o que nos potencializa. No fim das contas, é na existência do outro que acabo tendo consciência do meu eu. 

E eu só queria saber o que está debaixo do meu nariz.

Assim, o caminho mais rápido é pedir ajuda para o outro, pois é no outro que existe a possibilidade de uma consciência auxiliar àquilo que não estou conseguindo perceber. Pelo seu lugar no mundo, o olhar do outro é mais abrangente, podendo mirar apenas no essencial ponto cego debaixo do nosso nariz antes de nos encararmos no espelho para finalmente enxergar o que está lá há muito tempo e não nos dávamos conta. 

Isso porque também temos pontos cegos em nossa alma.

É desnecessário citar o número de fatos calamitosos que poderiam ter sido evitados se as pessoas tivessem pedido ajuda. Ficamos tanto tempo no espelho olhando para nosso rosto com o olhar absorto em detalhes irrelevantes de autocomiseração ou autoafirmação que as respostas necessárias acabam ficando submersas, em segundo plano. É no outro que está a possibilidade dessas respostas virem à tona, não porque o outro tenha essas respostas, mas sim, por ter outras perguntas as quais ainda não nos fizemos. 

O equilíbrio emocional necessário para seguirmos pelos nossos dias, quando perdido, só será percebido quando possivelmente já estivermos bem distanciados de nossa rota desejada. Nesses momentos, uma mão de amparo pode te reequilibrar sem que isso vire mais uma cicatriz em nossa face, pois atuaremos antes que essa cicatriz seja causada ou tome proporções maiores ou até incuráveis.

De uma forma ou de outra, todos nós precisamos do outro. Não para nos compararmos, mas para efetivamente temos claro o que está debaixo do nosso nariz. Pode haver momentos em que será necessária a luz do outro para iluminar nossas sombras. Pode haver momentos que a vida vai nos desafiar a procurar ajuda, não para provar que somos incapazes, mas para nos mostrar que, uma vez capazes de encararmos o espelho com profundidade, possamos enxergar um ser humano vencedor de seu próprio orgulho e de seu próprio ego e que, por isso, tornou-se melhor. Se for assim mesmo, então eu diria que, no fundo, "o céu são os outros".

O que pode estar em algum ponto cego do seu ser arruinando a vida mais plena e desejada por ti?

Consegue me dizer o que é isso que está debaixo do seu nariz?


Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli



sábado, 8 de setembro de 2018

O iogurte aberto no supermercado

Um dia antes de escrever esse texto, presenciei a cena que vou contar.

Estava eu na fila do pão, em um supermercado, pensando em pegar os pães e já partir para o próximo item da lista de compras, até que me chama a atenção uma jovem família vindo em minha direção. Acredito que fosse um pai, uma mãe e uma criança, um menino de uns 4 ou 5 anos, sentado na cadeirinha do carrinho. Fiquei olhando para eles, sem razão aparente.

O pai puxa de dentro do carrinho deles um conjunto de iogurtes que vêm em garrafinhas, e oferece ao menino. "Quer um? O pai abre para ti!" Obviamente, a criança, que estava tranquila no carrinho leva as duas mãozinhas em direção ao pai, que lhe dá o iogurte. Mas o trabalho do pai ainda não tinha terminado. "Abre um para mim, também?" Pede a mãe.

E a vida seguiu normal. A minha, daquele pai e daquela mãe. Mas daquela criança não. Ela seguiu por outro caminho, imprevisível.

Não tenho nenhuma dúvida da boa e amorosa intenção do pai em sua atitude. Dar aos filhos tudo aquilo que podemos talvez seja a plenitude parental, e ele está procurando ser o melhor pai dentro de suas possibilidades. Só que de boas intenções, as crenças limitantes estão cheias.

Muito antes de me meter na vida dos outros, de julgar o que é certo ou errado, muito antes de entrar no mérito que o iogurte seria pago de qualquer forma, muito antes de lançar mão de leis do consumidor, regras de estabelecimentos comerciais, sem nem ao menos apelar para o bom senso que difere um supermercado de uma lancheria, meu foco é aquele menino. O que esta corriqueira experiência pode lhe trazer de consequências no futuro?

Uma criança passa praticamente seus sete primeiros anos de vida dando significado a tudo que a rodeia. Em grande parte, esses significados se cristalizam para que a sequência da vida seja possível, quando a socialização com outras crianças, professores e familiares se avolumar e ser fator decisivo nas próximas fases de desenvolvimento daquele serzinho em formação. Reflita sobre esse enorme desafio que uma criança tem pela frente. Nós, como adultos, já passamos por esse desafio, e até hoje nosso software mental roda esquemas que vêm lá de nossa primeira infância.

Agora, o computadorzinho daquele menino recebeu novos significados. Algo talvez como "posso comer iogurte quando eu quiser, onde eu quiser. Não preciso esperar. E nem minha mãe!" 

Nos compêndios de comportamento humano, é bastante conhecida a experiência chamada "Experimento do Marshmallow", do final dos anos 60 e liderada pelo professor Walter Mischel na Universidade de Standford, nos Estados Unidos. A experiência consistia em colocar uma criança em uma sala, sentada à frente de um bolinho ou marshmallow. O cientista dizia à criança que ela podia comer a guloseima se quisesse. Porém, ele iria sair da sala, e se quando voltasse uns 15 minutos depois, a criança tivessse conseguido resistir em comer o doce, ganharia outro como recompensa. Das 600 crianças testadas, um terço delas conseguiu a recompensa. Essas crianças seguiram tendo suas vidas monitoradas, com resultados surpreendentes. Esse um terço que resistiu ao impulso de comer o doce apresentou médias muito superiores em relação aos outros dois terços em testes de competências e comportamentos na adolescência, além de maiores níveis salariais quando chegaram na vida adulta. Posteriormente, em 2012, novas experiências do gênero levantaram dados ainda mais relevantes, como o desenvolvimento de geração de senso estratégico de autocontrole perante determinadas situações futuras ligadas à confiança.

Será que o estímulo ao autocontrole na infância em não consumir algo que ainda não é seu poderia evitar um adulto com problemas em seu cartão de crédito? Será que uma criança que em seu próprio tempo vai manejando suas pequenas frustrações poderá ser um adulto mais preparado para possíveis grandes frustrações? Será que uma criança que recebe ajuda para conhecer limites comportamentais terá mais consciência de suas capacidades no futuro?

Será que é através dos limites que temos a chance de sermos ilimitados?

Os bebês precisam ser amamentados em qualquer lugar por essa ser uma necessidade física e mental dessa fase, para o seu bem futuro. Da mesma forma, podemos nos perguntar a cada atitude com as crianças: "qual é a sua necessidade física e mental dessa fase, para seu bem futuro?"

Dez minutos depois, eu estava no caixa. E a família com o menino coincidentemente vem logo atrás de mim. Apenas 10 minutos.

Que os pequenos tenham chances de desenvolver seu senso de resiliência com pequenos "nãos" sempre que necessário. Não para torná-los amedrontados e rebeldes, muito pelo contrário, para construírem aos poucos seu coeficiente de inteligência emocional de forma saudável e carinhosa sob o manto protetor dos adultos.

Porque amar é educar. Em todos os momentos. Em todos os lugares. Até mesmo no supermercado.

Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli





sexta-feira, 24 de agosto de 2018

O desafio do choque

Não sei se a história é verídica, mas a sua lembrança me serviu muitas vezes pela vida. Quando eu cheguei na adolescência, alguns de meus amigos começaram a buscar um encaminhamento profissional. Muitos deles foram buscar conhecimentos na eletrônica, nos cursos profissionalizantes da época. Esses meus amigos que foram para o lado da eletricidade me diziam que uma das primeiras atividades práticas do curso era aprender a levar choques. Isso mesmo. Para lidar com a eletricidade, precisavam aprender a administrar o medo. Havia uma máquina em que se encostava a mão, e se levava um choque com uma voltagem quase imperceptível, e que ia, pouco a pouco, sendo aumentada, até o ponto onde o aluno suportasse e que não corresse riscos. 

Lenda ou não, essa imagem nunca me saiu da cabeça. E me serve hoje como uma analogia aos "choques" que vamos levando ao longo da vida: alguns mais leves, outros mais fortes, suportá-los ou não nem sempre depende de um exercício automático de vontade. Pode ser que o choque seja tão grande de nos faça reagir com um impulso de fuga, a partir do reflexo de nossa própria autopreservação. Como na simulação da máquina de choques, cada um de nós tem um limite de tolerância. Só que a vida é uma prova real.  Depois do impacto, o que nos resta  é  respirar e colocar novamente nossa mão no choque, até que o exercício acabe. O aprendizado disso é o desenvolvimento da RESILIÊNCIA.

Resiliência não quer dizer que não seremos "amassados" por algumas situações, mas sim, que depois de amassados, possamos voltar a nossa forma original o mais rápido que nos for possível. Em nossos dias, ser positivo virou quase um sinônimo de retidão moral, o que pode transformar uma pretensa positividade em uma tirana cruel, de quem esperamos "dias melhores" que poderão nunca chegar da forma como os imaginamos. A melhor dimensão da positividade é aquela que gera ATITUDES POSITIVAS, ressignificações capazes de desenvolver na pessoa uma cultura emocional que a torne hábil em reconhecer com clareza o que está sentindo, e como decide se comportar a partir daquele reconhecimento.

Somos seres movidos pelas emoções. É a partir delas que tomamos atitudes e delineamos comportamentos, utilizando nosso intelecto para justificar tais comportamentos. Negar emoções que causam desconforto vai apenas torná-las mais fortes, pois todas as emoções nos alavancam ou protegem de algo. Assim, desejar "não sentir" é algo inalcançável aos vivos, como nós. O melhor que podemos desejar é a capacidade de administrarmos essas forças e as utilizarmos, aí sim, positivamente.

Resiliência e positividade são quase duas palavras gêmeas dentro de uma cultura emocional. Ambas tratam genuinamente da capacidade de levarmos os choques e  conseguir decidir o que fazermos com eles. Sentir os golpes desses choques é humano. Sacudirmos a poeira e vencermos o desafio do choque também.



Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli     




quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Seja um hacker

O que eu mais poderia desejar ao leitor desse texto é que ele desenvolvesse as atitudes de um hacker

Antes de mais nada, é preciso diferenciar um hacker de um cracker. Ambos são termos originários dos sistemas de informática, mas é o cracker aquele invade sistemas de forma ilícita, buscando lucrar ao máximo com o prejuízo alheio. Já o hacker é aquele que invade sistemas com o intuito de apontar falhas nesse sistema, de modo a expor onde a segurança ou acessibilidade daquele software deve ser melhorado exatamente para evitar erros ou a ação de crackers. Tanto isso é verdade que instituições ao redor do mundo têm promovido concursos com altas premiações para hackers que forem capazes de invadir seus sistemas e apontar falhas, abrindo a possibilidade de aperfeiçoamento do todo.

Só aquele que reconhece suas deficiências pode melhorar. Uma incompetência consciente pode tornar-se uma competência. Uma incompetência inconsciente será sempre ela mesma.

Querendo ou não, nós mesmos somos sistemas. Nosso todo é um sistema. Fazem parte desse sistema nosso corpo físico, nossos esquemas cognitivos, nossas emoções, comportamentos e atitudes. Esse nosso "eu sistema" interage o tempo todo com outros sistemas, como outras pessoas, trabalho, família e instituições. Nessas interações, nosso sistema vai utilizando seus próprios recursos para montar um verdadeiro banco de dados que determinará a sua "programação". A questão é: esse banco de dados de nosso software está nos levando para onde?

A tendência desse sistema é a acomodação. É viver o dia-a-dia com base no banco de dados pré-existente. A divergência é que essa acomodação ao longo do tempo pode deixar de ser "cômoda", e acabe mais nos distanciando dos nossos objetivos do que, de fato, nos aproximando deles.

Chega o momento de ser um hacker. De si mesmo.

Ter curiosidade para observar, experimentar e executar novas pequenas ações que podemos ter todos os dias com o intuito de encontrar novas possibilidades. Dessas ações, armazenar os novos aprendizados, lapidando os esquemas mentais de modo que se tornem mais potencializadores do que limitantes em nossas vidas. Testar um "padrão novo" com o cuidado de não "bugar" o sistema, de maneira firme e inteligente, para observar e colher resultados. 

"Hackeie" seus processos como você já os conhece. O que pode aperfeiçoar a experiência de seu próprio sistema? Quais são outros modos de execução de tarefas?  Hackeie relacionamentos, desenvolvendo mecanismos de aproximação e de distanciamento de acordo com a compatibilidade de seus sistemas, mantendo-se sempre aberto para aprender com todos. Hackeie sua comunicação, tornando sua escuta  mais empática e sua fala mais assertiva. Hackeie suas emoções, não fingindo que elas não existem, mas ressignificando aquelas que te paralisam. 

Ainda assim, nossos sistemas existem e co-existem no arcabouço da natureza probabilística da vida. O fluxo de acontecimentos, tal qual o alinhamento de diversos comandos de programação, muitas vezes invisíveis, desencadeia ocorrências independentes de nossas vontades. Não temos controle direto sobre acidentes, sobre nossos batimentos cardíacos, sobre nossa idade, sobre se vai ou não chover amanhã. O que podemos mesmo hackear é aquilo que está sobre o nosso controle: qual a melhor forma de agir, uma vez que o acidente já aconteceu, como tornar meus batimentos cardíacos mais saudáveis, como viver com a maior plenitude possível a minha idade e praticar uma fé emocionada que o tempo será aquele que eu espero amanhã. 

Descubra as falhas e inseguranças de seu sistema, e trabalhe nelas como um hacker. Não será nenhuma instituição ao redor do mundo que o premiará. Será o seu próprio sistema aperfeiçoado que fará isso.

Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli





terça-feira, 24 de julho de 2018

Eu queria que não existisse Coaching

Eu queria que não existisse Coaching. Porque Coaching só existe pela necessidade de expandir nossa consciência com relação as nossas luzes e sombras, para seguirmos com firmeza nosso caminho em direção a onde queremos chegar. 

E eu queria que isso fosse mais fácil.

Queria que desde cedo em nossas vidas tivéssemos bem claros nossos objetivos e metas, e que soubéssemos como alcançá-los. Que fôssemos capazes de analisar e planejar as melhores formas de que nossos objetivos saíssem do campo dos sonhos e se transformassem em ação efetiva.

Queria que tivéssemos de antemão a consciência de quantas dimensões nossa vida é composta, e que o desequilíbrio em uma dessas dimensões pode colocar a perder a qualidade de outras. Que´pudéssemos saber com precisão onde nossa vida pode melhorar, o que pode e precisa ser feito, e qual o impacto dessa melhora no todo de nossa existência. 

Queria que conhecêssemos nossos esquemas cognitivos inconscientes, nossos softwares mentais que um dia foram instalados e nem sabemos. Prova disso é que muitos de nossos conceitos e  opiniões nem temos ideia de onde vêm. Que aprendêssemos que são essas crenças que nos movem a ter emoções, comportamentos e ações. Que são esses softwares que nos dizem quem somos, do que somos capazes, quais são nossos valores, sobre o que é o amor, o dinheiro, a felicidade, o merecimento, a plenitude, a conquista.

Queria que a nós fossem claros os porquês de nossas autossabotagens, porque tantas vezes nós mesmos somos os responsáveis por não alcançar objetivos que estavam tão próximos, mas que abrimos mão em nome de ganhos secundários que, por fim, nos causaram apenas infelicidade.

Queria que nos casos de indecisão fôssemos capazes de pesar as perdas e os ganhos, administrar bem nossas forças, trabalhar nossas fraquezas, e optar pelas melhores soluções a partir de uma consciência ampliada.

Enfim, queria que "viéssemos de fábrica" com esse conhecimento e com essas habilidades, ou, pelo menos, que não as fôssemos perdendo de forma silenciosa e contínua pelo caminho. Somos, como pessoas do século XXI, o produto mais avançado que nossa raça já conseguiu criar, embora originários de uma matriz primária de autopreservação capaz de dominar e limitar a nós mesmos e aos outros, através da força e da própria linguagem. 

Eu queria que não precisasse existir o Coaching. E ainda bem que existe. 

Que o Coaching seja uma possibilidade de nos libertar da caverna platônica onde podemos estar vivendo em uma realidade limitada,  e nos instrumentalize, através do autoconhecimento, a viver a vida mais plena que nos seja possível.

Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli
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segunda-feira, 9 de julho de 2018

Gestão de conflitos no trabalho: "se queres a paz, prepara-te para a guerra"

Se levarmos em consideração que a história identifica apenas 286 anos de paz nos últimos 3500 da humanidade, o conflito parece ser, inevitavelmente, parte da psique humana. E, mais do que os danos causados por conflitos mal administrados, os efeitos colaterais são sentimentos como remorso, intolerância, medo e desejo de vingança. Como nossas ações provêm de nossos sentimentos, podemos começar a calcular o efeito devastador que a falta de administração dos choques das necessidades humanas podem ter em nossas vidas.

Sim, porque apesar de ser representado das mais diferentes formas, um conflito é um choque de necessidades, que pode ocorrer entre indivíduos, entre grupos ou até entre países. Os interesses próprios, quando pressentem que podem ser afetados negativamente por outra parte, reagem baseados nos mapas mentais das pessoas. E algo inato no ser humano é a reação dicotômica do "lutar ou fugir", ou seja, ou ataca-se a causa do obstáculo à obtenção do que é de interesse, ou desiste-se, abafando e suprimindo objetivos e aspirações. Ainda bem que o estudo da Gestão de Conflitos avançou muito nas últimas décadas, o que nos instrumentaliza para lidarmos com situações de impasse da maneira mais eficaz possível.

Uma empresa pode ser a organização social mais propícia para o aparecimento de conflitos. Obviamente, vivenciamos conflitos na vida pessoal também, com uma diferença: as relações pessoais são mais permeáveis à emotividade (tanto para o bem quanto para o mal), o que faz com que, apesar de mais intensos, esses conflitos tenham uma possibilidade e um desejo de resolução mais genuíno. Em uma empresa, onde, apesar do convívio diário com colegas e chefes, somos influenciados por outros fatores como cultura e clima organizacional, o principal motivo de estarmos lá é para suprirmos necessidades, que vão desde as mais básicas, como suporte financeiro, até as mais elevadas, como a necessidade de autorrealização. O elemento emocional direciona seu vetor para a sobrevivência, para a parte do nosso cérebro responsável por posicionar a chave em "lutar" ou "fugir". Com isso, a as técnicas empregadas na Gestão de Conflitos dependerão muito do nível de inteligência emocional dos envolvidos. Daí, a necessidade do conhecimento mais aprofundado no tema. 

Mesmo que o termo "conflito" carregue uma conotação negativa, as práticas de Gestão de Conflitos atuais já são capazes de processar o que há de positivo em uma contenda, de modo a estimular não que sejam evitados, mas sim, que sejam vivenciados da maneira mais proveitosa. Para isso, alguns cuidados fundamentais são, por exemplo, o de manter o conflito no campo das ideias, de modo que não avancem para o campo dos valores pessoais. O gestor de conflitos precisa ter uma visão macro da situação, assim como deixar claras as intenções por trás de um desentendimento, sendo firme com o problema a ser resolvido em si, e não necessariamente com as pessoas. O ápice da prática da Gestão de Conflitos está na transformação de um conflito disfuncional (que causa rupturas e sérias consequências à empresa) em um conflito funcional (capaz de desenvolver a capacidade intelectual e a mudança positiva dos envolvidos e do ambiente).

Um profissional ou uma empresa que não gerencie seus conflitos está rolando com uma bola de neve morro abaixo. Mais cedo ou mais tarde, não haverá mais controle. Algumas consequências da falta de controle sobre os conflitos são a perda de produtividade, queda de moral, quebra de regulamentos e a perda de sinergia nas equipes, fatos que geram altos custos à empresa. O aperfeiçoamento da Gestão de Conflitos oportuniza a criação de situações ganha-ganha, onde descobrem-se espaços para negociação e concordância onde parecia não haver nenhum, através de estímulos à criatividade e sofisticação dos processos comunicativos.

Quantas contratações já foram feitas por necessidades técnicas e acabaram em demissões por deficiências comportamentais? Já que viver conflitos parece mesmo ser inevitável, busquemos a paz resolvendo primeiramente nossos próprios conflitos interiores, para sermos profissionais capazes de vencer as guerras diárias com a arma mais poderosa que o ser humano tem: a própria inteligência, em suas mais sutis nuanças. É ela que, apesar de tanta guerra, vem nos mantendo nesse mundo por milênios.

Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli


domingo, 24 de junho de 2018

Desconstruindo seu Templo

Existe no Japão, na localidade de Ise, um conjunto de templos chamado Ise Jingu. Com mais de 1500 anos de existência, esse conjunto de templos poderia ser apenas mais um dentro do grande número de templos existem no Japão, não fosse por uma característica impressionante: a cada vinte anos, todos os templos são desmontados, e novos templos são construídos em seu lugar. Segundo a tradição do templo, essa prática faz com que a as instalações dos templos estejam sempre firmes e renovadas, e que as novas gerações tenham a possibilidade de aprender na prática as técnicas ímpares de construção dos templos.

No Coaching, ocorre algo parecido. Nossos comportamentos são determinados pelos nossos sentimentos que, por sua vez, são originados e nomeados a partir de nossos esquemas cognitivos, as famosas "crenças", significados que vamos dando ao mundo desde a nossa primeira infância e que vão ficando em nossa psique ao longo da vida. Assim, são em nossas próprias crenças onde estão as raízes mais profundas que sustentam nossos comportamentos e que, em grande parte das vezes, nos levam aos nossos resultados. O Coaching trabalhará com essas crenças, as quais, muitas vezes estão em nível inconsciente, não de forma a invalidá-las ou sugerir que elas estejam erradas, mas sim, com o intuito de descobrir esquemas cognitivos que até podem ter sido importantes no passado, mas que já não nos trazem mais nenhum benefício, e construir, no lugar dessas crenças, esquemas cognitivos mais alinhados com as nossas metas e objetivos baseados no agora, e com vistas as suas realizações no futuro.

No fim das contas, apesar da impactante imagem que me vem à cabeça, de pensar que em 2013 os templos de Ise Jingu passaram por sua 62a. reformulação, ainda essa desconstrução e reconstrução me parece ser menos complexa do que a desconstrução e a reconstrução de uma crença. Essa é uma reformulação que só pode acontecer pelo "lado de dentro" de um ser humano, de uma forma que os sentidos que a vida tem estejam conectados com a "realidade" daquela própria pessoa. Para isso, é necessário, de tempos é tempos, olhar para nós mesmos, perceber o que está indo bem e o que não está, ter clareza sobre onde queremos chegar e, com espírito de desapego, reformular e renovar nossos esquemas, de modo que nos tragam benefícios e a plenitude desejada. 

Imagine-se sendo um templo de Ise Jungu. Imagine-se deixando ir e desconstruindo pensamentos e padrões que já serviram, mas que não servem mais na vida e nos objetivos de hoje, e reconstruindo em seu lugar pensamentos e assunções mais alinhadas com seus sonhos mais queridos. Imagine-se reforçado e revigorado para viver os próximos 20 anos. A primeira certeza que podemos ter é que será um processo que nos causará dor, pois perder o apoio sólido de algo que podemos tocar, para ir construindo outra coisa em seu lugar parece um trabalho angustiante e desnecessário. Porém, tomar a iniciativa de desconstruir e reconstruir algo consistente e ordenado pode ser muito mais eficiente do que vir a sofrer uma devastação a qual nosso templo não estava pronto e ter que reerguê-lo do zero.

Viver milhares de dias, ou viver o mesmo dia milhares de vezes é opção de cada um. O Coaching está aí para auxiliar na renovação de seu próprio templo.

Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli




sexta-feira, 8 de junho de 2018

A criança de hoje e o profissional de amanhã


“A quarta revolução industrial não é definida por um conjunto de tecnologias emergentes em si mesmas, mas a transição em direção a novos sistemas que foram construídos sobre a infraestrutura da revolução digital. Estamos no limiar da era pós-digital."

Com essas palavras, Klaus Schwab, diretor executivo do Fórum Econômico Mundial, nos remete a uma perspectiva de futuro que já pode ser visto no horizonte: os novos sistemas citados passam por conceitos de minimização das necessidades de interação física, como, por exemplo, o já comum conceito wireless (sem fio). Um próximo passo que também já vivenciamos é o conceito do paperless (sem papel), já presente em muitas atividades. Avançamos para a prática do touchless (sem toques), onde robôs importarão e farão leitura de dados em tempo real. E não precisamos pensar em robôs humanoides. Serão robôs do tamanho do processador de um computador.

E veja-se que esses conceitos não são meras previsões: já são o amanhecer do presente.

Em um mundo onde robôs estão cada vez mais presentes nas atividades profissionais, onde a inteligência artificial consegue realizar todo e qualquer trabalho que apresente um mesmo padrão, qual será o cenário do mercado profissional para nossos filhos?

Orgulhar-se de que os pequenos são exímios usuários de nossos celulares é o bastante? 

Absurda, e absolutamente, não. 

Estima-se que, nos próximos 30 anos, parte significativa das habilidades mais desejadas no mundo profissional ainda nem são conhecidas. Nesse cenário, a criatividade humana mostra-se como o grande trunfo para o futuro. Habilidades tipicamente humanas como o autoconhecimento, gestão de emoções, resiliência, influência, flexibilidade cognitiva, poder de negociação e principalmente empatia serão os grandes desencadeadores de talentos em um mundo onde o padrão será totalmente robotizado. O grande diferencial do ser humano será exatamente ser humano. É imperioso tornar habitual às crianças de hoje momentos de aprendizagem e vivência que proporcionem o desenvolvimento de habilidades cognitivas e emocionais, de modo a fortalecer sua curiosidade natural e sua construção potencializadora de significados.

"O futuro do emprego será feito por vagas que não existem”, diz o CEO do Greenpeace David Ritter.

Dizem a nós, pais, para “pensarmos fora da caixa”. Acredito que todos nós nascemos “fora da caixa” e, aos poucos, vamos ficando cada vez mais limitados em termos de criatividade, por uma série de razões. Para nossos filhos, pensemos em formas de evitarmos que “desaprendam” o mínimo possível.

Que proporcionemos um grande repertório de conhecimentos e possibilidades aos nossos filhos. Que nossa casa seja um centro de estímulos de criatividade, desenvolvimento emocional e, principalmente, humanidade. Que não apenas nos limitemos a responder os seus “porquês”. Que os geremos cada vez mais!


Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli



quinta-feira, 24 de maio de 2018

Spoilers da vida

Imagine que sua vida fosse uma série de TV. Qual seria a temática dessa série, seu plot, seu enredo,  sua ambientação, seu figurino? Como seria a divisão das temporadas? Cada uma seria sobre um mês? Um semestre? Um ano? Seria uma mesma e única temporada?

Quem seriam os personagens principais? Qual seria a influência que esses personagens teriam sobre você, o personagem principal? Ou você seria personagem coadjuvante?

Qual seria o público que essa série atrairia? Mais infantil? Mais adolescente? Mais adulto?

Quais as reviravoltas que essa história poderia ter? O que seu personagem pode fazer para gerar ou conter essas reviravoltas? E o que não está absolutamente sob seu controle?

Sua série seria capaz de gerar spin-offs, histórias paralelas interconectadas à história principal, ou seria uma única sequência linear de acontecimentos encadeados no fluxo do tempo?

Imagine, agora, um crossover entre o você de agora e o você de alguns episódios ou temporadas passadas. Qual seria sua análise: esse personagem evoluiu ou regrediu em sua jornada? Em quê? Quanto? De que jeito?

E agora, imagine que alguém já assistiu os episódios e temporadas futuras de sua série, e viesse te contar. Imagine que você pudesse receber spoilers da vida. Quais seriam? Qual é a situação de seu personagem, no futuro, nos mais diversos campos da trama? Se o enredo de sua vida continuar como está, qual será o desfecho de sua história?

Com esses spoilers, qual seria a resenha que você escreveria sobre essa série? 

Estamos escrevendo e vivendo novos episódios todos os dias. Enfatizemos cada vez mais o que nossos personagens nessa série vêm fazendo e alcançando bons resultados, e imaginemos mudanças naquilo onde os resultados não estão sendo os esperados. Assim, a cada nova temporada, nossa história vai chegar cada vez mais próximo daquilo que nossos personagens, de verdade, almejam para alcançar o estado de vida mais pleno possível.

Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli



quarta-feira, 9 de maio de 2018

Motivação não é açúcar

O principal combustível de nosso corpo físico é o açúcar, em suas mais diferentes formas, seja sacarose, frutose, lactose, entre outros. É com essas substâncias que primordialmente o corpo gera energia para manter as funções vitais em equilíbrio. Você já passou pela experiência de ingerir algo doce, e sentir-se mais energizado, mais alerta, ou mesmo mais relaxado?

Tudo bem, sem que se perca de vista os riscos que corremos com o excesso de açúcar no sangue.

Vejo algo parecido acontecendo com o que se convencionou chamar de "motivação". Um elogio, um aumento salarial, uma palestra, um bom livro, um gesto de carinho... "estou muito motivado", parece ser uma frase proferida por alguém que recebeu uma hipotética descarga de açúcar em sua alma. Assim, da mesma forma que esse "açúcar" é o que mantém a energia, ela só terá efeito enquanto ainda estiver na "alma". E quando ela acabar? Buscaremos mais e mais? E se não encontrarmos mais?

Corremos o risco de nos tornarmos "viciados" nesse "açúcar da alma"?

Veja-se que "motivação" vem de "motivos". Seus motivos para viver são seus, e apenas seus. Não há nada externo que fará com que sua motivação para viver mude. Isso só pode ocorrer internamente. O que esse açúcar que o mundo exterior pode nos ofertar é outra coisa, chamada "inspiração", essa sim, uma verdadeira mensagem telepática que recebemos de fora e que é capaz de nos agitar, de nos eletrizar, de nos mover. Da mesma forma que, ao respirarmos, é o ato da inspiração o que traz ao corpo e à alma  o novo ar, e a qualidade desse ar será crucial para a qualidade de nossa vida. É no desvão do dia-a-dia que buscaremos a inspiração necessária para seguirmos em frente com energia. A inspiração é nosso real açúcar.

A motivação é diferente. Ela é intrínseca. Firme. Duradoura. Encontramos-na no lugar onde normalmente a procuramos por último: dentro de nós mesmos. "O que me dá motivos para seguir?" Meus sonhos? Meus valores? Minha família? Ou ainda, "o que me dá motivos para mudar?" Estou feliz com meus resultados ao longo da vida?

"O que me faz sair da cama hoje e ir realizar meus projetos?"

Que não nos falte inspiração. Lembremos que precisamos desse açúcar para viver. Para que a doçura da vida possa ser degustada. Busque inspiração com leituras, com treinamentos, com filmes, com a música, com a arte, com a contemplação, mas, acima de tudo, busque inspiração nas pessoas, e no tanto que têm a nos ensinar, no tanto de "açúcar" que têm a nos oferecer, e lhes seja sempre grato. Só que, da mesma forma que não é só de pão ( e seus carboidratos = açúcares) que se vive, não será só na inspiração que nos sustentaremos ao longo dos dias.  Haverá momentos que simplesmente esse açúcar estará em falta no mercado. Nesses momentos, e para sempre, é necessário buscar nossas motivações em nosso próprio silêncio. No entendimento de quem somos, na superação de carências emocionais, da ansiedade, do stress e da desesperança, que tanto prejudicam nossa compreensão. Na certeza de sabermos onde estamos e onde queremos chegar. Pois são nesses motivos que nossos projetos mais queridos estão verdadeiramente sustentados.  

Muita inspiração a você, querido leitor. E muita clareza na percepção de suas motivações durante essa jornada pela vida.

Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli


sábado, 21 de abril de 2018

Quando deixamos a creche

Acredite, querido leitor ou leitora, que não desejo que se sinta mal ou ofendido por sugerir que, em alguns aspectos, sejam grandes as chances de ainda estarmos agindo da mesma forma de quando éramos crianças.  Não é, de forma alguma, uma questão de imaturidade, até porque entendo que a maturidade não seja medida pelos anos que já vivemos, mas sim, pelo quanto de responsabilidade pela nossa vida assumimos. O que digo é que é na primeira infância, até aproximadamente os sete anos, que formamos os principais esquemas cognitivos que guiarão nossas ações por praticamente toda a nossa vida. As famosas "crenças".

Iniciamos nossas vidas sem referenciais de comparação. Começamos a dar sentido a tudo que acontece ao nosso redor de acordo com nossa criação, nossos estímulos, recompensas e castigos, sem a possibilidade de inferir entre o certo e o errado. As crianças são simplesmente criadoras de sentidos em um mundo totalmente novo a elas. "O que diziam a mim, quando criança, sobre minha aparência?" "O que me falavam sobre minha capacidade?" "O que eu ouvia sobre dinheiro?" "Eu me sentia amado?" "Eu costumava ouvir nãos? Apenas nãos? Nunca ouvia nãos?" "Estava em um pedestal ou um calabouço?" 

Assim, começamos a moldar os sentidos das coisas que acontecem no mundo.

Vamos crescendo, socializando-se mais, nossos esquemas cognitivos começam a sofisticar-se à medida que vamos interagindo com os esquemas cognitivos de outras pessoas.  Rapidamente, nos tornamos adultos e passamos a finalmente ter crenças baseadas na observação e no aprendizado. Ainda assim, as nossas raízes, aquilo que temos de mais profundo em nossa psique, ainda estão lá: aqueles velhos sentidos que um dia demos a um mundo desconhecido.

Para o olho treinado, não é tão difícil observar as "crianças interiores" se manifestando nos adultos. Às vezes são crianças brincalhonas, até mesmo ingênuas, que nos proporcionam desfrutar do frescor da vida, das coisas simples, e até de uma determinada inocência. Outras vezes são crianças mimadas, que tem dificuldade em dividir, em relacionarem-se com outras pessoas, que continuam mantendo a crença que o mundo gira ao seu redor. Outras vezes são crianças que aprenderam que a agressividade é o melhor caminho, e que podem, assim, dirigir seus carros de forma imprudente, podem subjugar os outros, podem ferir com gestos ou palavras. Quantas crianças interiores adultas conhecemos que não são mais do que seres profundamente carentes, amedrontados em um mundo ameaçador e sem nenhuma possibilidade de sentirem-se amadas?

Não é porque o mundo está cheio de crianças interiores confusas e carentes que precisemos nos resignar. Podemos escolher "deixar a creche." Podemos olhar para nossa criança interior com carinho, pegá-la no colo, agora como adultos, e não apenas agradecê-las, mas principalmente elogiá-las pelo belo trabalho que elas fizeram com a gente pois, independente de nossas crenças hoje, essa criança que um dia fomos fez o melhor possível para entender um mundo que até hoje estamos tentando entender. Só que, agora, podemos com muito amor mostrar a essa criança que outros mundos são possíveis, que outras realidades são verossímeis, que padrões que não trazem plenitude a nossa vida podem ser alterados. Que nossas ações podem ser melhor direcionadas aos nossos objetivos na vida.  Que nossas crenças limitantes podem ser visitadas, entendidas, e transformadas em crenças potencializadoras. 

Um dia, ouvi que a única diferença entre crianças e adultos é o preço dos brinquedos de cada um. Gosto dessa frase. Ela me faz querer pegar no colo minha criança interior criadora de significados com mais carinho ainda, e dizer a ela, de forma muito terna, segura e adulta:

"Eu vou cuidar de você para sempre. Te amo! Agora, enxugue suas lágrimas e vamos juntos dar um jeito de realizar nossos sonhos!"

E seguir pela vida como um adulto levando afetuosamente essa criança pela mão. E não como uma criança levando um adulto de arrasto.

Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli


sexta-feira, 23 de março de 2018

A Inteligência Emocional no Trabalho


O ambiente profissional é um dos principais contextos onde demonstrações de habilidades da Inteligência Emocional podem transparecer. Pode não bastar apenas que haja conhecimento técnico sobre o trabalho. Para o desenvolvimento de ambos, empresa e profissional, tão importante quanto a prática laboral,  é também preciso saber relacionar-se com as pessoas ao redor, e também consigo mesmo. Ninguém trabalha sozinho. No mínimo, você precisara ter um cliente.

Os questionamentos acerca da suficiência dos famosos testes de QI que ocorreram em meados nos anos 80 foram os primeiros indícios que a grande variedade das habilidades cognitivas humanas poderia estar limitando em muito o nosso conceito de inteligência. Nesse compasso, cientistas como Howard Gardner, Peter Salovey, Joseph Ledoux e Daniel Goleman, entre muitos outros, desenvolveram hipóteses sobre a inteligência humana, onde não necessariamente o conhecimento em si, mas sim a capacidade de se resolverem problemas era o foco principal. Essa capacidade de resolução de problemas, em virtude das estruturas cerebrais, dependia das memórias armazenadas daquela conjuntura do problema, as quais geravam um estado emocional, ou seja, cada situação gera uma emoção antes mesmo de nos darmos conta. Como lidar com essa situação e com as emoções envolvidas culminou com o conceito de Inteligência Emocional.

Nosso cérebro possui três níveis, por assim dizer:  neocórtex (parte consciente e reflexiva), sistema límbico (emocional) e cérebro primitivo, o qual basicamente tem as funções dos comandos “lutar ou fugir”.  A qualidade de nossa própria comunicação com nossa realidade faz com que tenhamos, proporcionalmente, a mesma qualidade de comunicação com nossas emoções, comunicação essa que pode nos limitar ou potencializar como pessoa e como profissional.

Em um ambiente de trabalho, cada pessoa traz suas necessidades, que interagem com as necessidades de todas as outras pessoas ao redor, além das necessidades da própria empresa. Nesse cenário, não é de se estranhar que conflitos interpessoais possam acontecer, uma vez que o trabalho por si só pode significar primordialmente a necessidade de sobrevivência. Assim, nada difere uma reunião de trabalho em uma sofisticada sala climatizada do 20º. andar, de um grupo de caçadores pré-históricos unidos tentando derrubar um mamute: para ambos os grupos, é a sobrevivência que está em jogo, e o “lutar ou fugir” mais primitivo pode ser acionado a qualquer momento. Leve-se em consideração necessidades mais sofisticadas, como as de autoestima ou de autorrealização profissional e o grau da Inteligência Emocional precisará também sofisticar-se, afim de se evitarem os "sequestros emocionais". 

Um ambiente de trabalho emocionalmente inteligente proporciona um cenário favorável ao pleno exercício não apenas emocional, mas também cognitivo, tornando possível o aumento da produtividade e do próprio desenvolvimento profissional. Contudo, é importante lembrar que uma empresa é formada por pessoas, pessoas essas que, ao qualificarem sua intra e intercomunicação a partir da autoconsciência de suas emoções, capacitam-se para não entrar nas estatísticas de Peter Drucker, um dos grandes mestres da Administração moderna, que atestou que "as pessoas são contratadas pelas suas habilidades técnicas, mas são demitidas pelos seus comportamentos”

Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli



quarta-feira, 21 de março de 2018

O que NÃO é Inteligência Emocional

O advento da teoria da Inteligência Emocional, mais conhecida pela publicação do livro homônimo de Daniel Goleman, em 1995, contribuiu para uma verdadeira desconstrução do conceito de inteligência vigente até aquele momento. O culto à racionalização pura voltada à resolução de problemas cedia espaço para o estudo do impacto emocional que esses mesmos problemas traziam antes mesmos de se considerar uma resolução a eles. Descobriu-se que antes do neocórtex (parte consciente, racional do cérebro) entrar em ação na resolução de um problema, o sistema límbico (emocional) já havia reagido e gerado emoções constantes em seus "arquivos" de situações similares as daquele problema. Assim, em poucas palavras, ser emocionalmente inteligente é levar ao consciente quais são as emoções que estão envolvidas em determinado momento ou, se não for assim, correr o risco de um assim chamado "sequestro emocional", onde nossos comportamentos podem não ser necessariamente os mais adequados.

Além dessa breve descrição sobre o que É a Inteligência Emocional, considero bastante relevante também discorrer sobre o que NÃO É a Inteligência Emocional. Isso porque um olhar superficial sobre a teoria pode gerar um entendimento prático de que ser emocionalmente inteligente tenha como base suprimir emoções, ou negar que as sente. E a repressão às emoções pode levar a sérios problemas de saúde.

Uma mesma emoção pode ter tanto um viés nocivo quanto saudável. Quem definirá isso será o nível de inteligência emocional de quem a está sentido. Por exemplo,  a ansiedade. Em seu caráter nocivo, causa preocupação excessiva, libera toxinas hormonais, gera subestimação de nossa próprio potencial e reduz nossa capacidade cognitiva. Já em sua faceta saudável, pode proporcionar uma visão mais realista do cenário como um todo e estabelecer um foco no resultado. A própria alegria, saudavelmente sentida, é um verdadeiro indicador de bem-estar tanto psíquico quanto físico, já que é uma emoção relacionada à resistência à dor e a doenças. Porém, em sua faceta nociva, a alegria pode nos desestimular estados reflexivos ou de discernir ameaças iminentes. Com isso, busco chamar a atenção que apenas suprimir ou como popularmente de diz, "engolir" as emoções, pode apenas levar ao desenvolvimento de ressentimentos ou de doenças psicossomáticas que eclodem até mesmo em nosso corpo físico. Assim, Inteligência Emocional não é reprimir. É entender e trabalhar com as nossas emoções e as dos outros.

Considere a qualidade de suas emoções na busca de seus objetivos, pois elas estarão sempre presentes nessa jornada. As emoções podem ser tanto aliadas quanto inimigas, e quem define o time em que elas vão jogar somos nós mesmos.

Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli


sexta-feira, 9 de março de 2018

A noite escura da alma

Eis que durante nossa jornada, um sentimento de perda de conexão com o que entendemos como divino vai se apossando de nós. Um sensação de ausência de suporte e força espiritual, de desesperança, de falta de iluminação. As coisas parecem que vão pouco a pouco perdendo o valor, deixam de ser gratificantes. Definitivamente, algo mudou em nosso interior. Uma triste impressão que atravessamos um deserto espiritual, que vai drenando amarga e inexoravelmente nossa fé. Tal qual personagens bíblicos como Davi e Jó, e outras pessoas identificadas com a fé, como relatou a própria Madre Tereza de Calcutá, podemos estar experimentando um processo conhecido dentro dos estudos da espiritualidade cristã como "a noite escura da alma". Nada de divino parece mais ter qualquer razão de ser.

Não é um período agradável. Não tem prazo para terminar. Por mais que tenhamos consciência que os desafios são inevitáveis, a carga e a intensidade das provações que precisamos encarar vai absorvendo nossa luz e erguendo essa noite escura em nossa alma. Nosso corpo físico responde com abatimento e cansaço. Nossa mente responte com esgotamento. Nosso espírito resume-se à baixa auto-estima, instabilidade e sentimento de abandono. Sentimo-nos desconectados. Estamos sozinhos perante o mundo. É um momento de tormenta, de vazio, de dúvida, de desequilíbrio, de turbulência, de desespero, de cogitar render-se. 

Contudo, esse momento sombrio precisa ser atravessado. Pois não é a escuridão que vai passar por você: é você que precisa passar pela escuridão. Por menor que seja a fagulha de fé que sua alma ainda consiga produzir, acenda sua vela e siga.  "Se está atravessando o inferno, continue atravessando: não é um bom lugar para parar".

A natureza nos ensina que depois da mais escura das noites, vem a luz do amanhecer. Ela vem tímida, devagar, em seu tempo, mas nunca deixa de vir. A noite escura da alma é um verdadeiro paradoxo metafísico. Passar por essa noite é reconhecer e familiarizar-se com a escuridão das sombras,  desenvolver recursos para aprimorar não apenas os 5 sentidos físicos, mais também os sentidos espirituais. Com isso, o sofrimento provocado pela escuridão dessa noite nos proporciona desenvolver mais recursos espirituais para seguirmos nossa jornada mais fortes e, principalmente, dando mais valor à luz.

E só sabemos o que é a luz porque conhecemos a escuridão.

Grato pela confiança,
Marcelo Pelissioli